OS ALMEIDAS
Que pessoas são essas que sabem
Sem saberem nada de ninguém
Onde se vive mal
Ou onde se vive bem
Sabem se há fartura ou miséria
Conhecem tudo de nós
Até das mulheres sabem as "regras"
Andam de noite
De madrugada
Como almas penadas
Fazem coisas que repugna
Coisas que ninguém quer fazer
Para eles é um trabalho
Honesto como qualquer outro
É o seu ganha-pão
Não deixam impressões digitais
São patrulheiros da noite
Não interrompem nossos sonhos
Seu trabalho é uma sombra
Com bom tempo ou vendavais
Nunca cobram nada
Contradançam com a madrugada
Olham-se sem dizer palavra
Olhar notívago de gato pardo
Mas não parvo
Na sombra da noite se escondem
Nossas rejeições e desperdícios
Tudo lhes passa pelas mãos
Manias, taras, restos de refeição
Cartas de amor amarrotadas
Pontos de interrogação
Jogos por debaixo da mesa
Dissabores e desilusões
Fraldas mal acauteladas
É vida de cão vadio
Vivida com muito brio
Em tudo aquilo que faz
O amanhecer traz-lhe a paz
Num momento de calmaria
Há o sabor duma ginjinha
Aparecem as matrafonas da noite
São ratas da rua da ponte
Metem nojo, não valem um tostão
Vacas vadias sem coração
Trabalham em turnos iguais
Nada têm em comum
Nem colegas de profissão
Como num passo de mágica
Fazem desaparecer o nosso lixo
Pendurado ao peito...
Trazem um baixo salário
E um fio com crucifixo
São os "Almeidas"...
Recolhem o nosso lixo
Merecem o nosso respeito
Até Ontem
Ana Rosa
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