terça-feira, 2 de junho de 2015

Os Almeidas





 OS ALMEIDAS

 Que pessoas são essas que sabem
 Sem saberem nada de ninguém
 Onde se vive mal
 Ou onde se vive bem
 Sabem se há fartura ou miséria
 Conhecem tudo de nós
 Até das mulheres sabem as "regras"

 Andam de noite
 De madrugada
 Como almas penadas
 Fazem coisas que repugna
 Coisas que ninguém quer fazer
 Para eles é um trabalho
 Honesto como qualquer outro
 É o seu ganha-pão

 Não deixam impressões digitais
 São patrulheiros da noite
 Não interrompem nossos sonhos
 Seu trabalho é uma sombra
 Com bom tempo ou vendavais

 Nunca cobram nada
 Contradançam com a madrugada
 Olham-se sem dizer palavra
 Olhar notívago de gato pardo
 Mas não parvo

 Na sombra da noite se escondem
 Nossas rejeições e desperdícios
 Tudo lhes passa pelas mãos
 Manias, taras, restos de refeição
 Cartas de amor amarrotadas
 Pontos de interrogação
 Jogos por debaixo da mesa
 Dissabores e desilusões
 Fraldas mal acauteladas

 É vida de cão vadio
 Vivida com muito brio
 Em tudo aquilo que faz
 O amanhecer traz-lhe a paz

 Num momento de calmaria
 Há o sabor duma ginjinha
 Aparecem as matrafonas da noite
 São ratas da rua da ponte
 Metem nojo, não valem um tostão
 Vacas vadias sem coração
 Trabalham em turnos iguais
 Nada têm em comum
 Nem colegas de profissão

 Como num passo de mágica
 Fazem desaparecer o nosso lixo
 Pendurado ao peito...
 Trazem um baixo salário
 E um fio com crucifixo

 São os "Almeidas"...
 Recolhem o nosso lixo
 Merecem o nosso respeito


Até Ontem

Ana Rosa

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