LÁGRIMA DE SAL
Lágrima de sal
Choro de silêncio
Silencioso grito aflito
Demasiadamente temperado
Para quem ainda é pequenito
Fala todas as línguas
Ao mesmo tempo
Em nenhuma se identifica
Não compreende a palavra violência
Perturba seu pensar de menino
E seu sonho de fantasia
Tem ideais ainda insonsos
De criança de atenção faminta
De vida impia
Com vida salgada
Porque criança acredita
Que falhe a pontaria
De quem aponta uma arma
Compulsiva é sua lágrima de sal
Consome e corrói de forma mortal
Por dentro e por fora
Tem lembranças da família
É sua única herança
Herança inglória
É lembrada com lágrima
Com efémero sabor a sal
Ficou só, somente só!
No meio de muita gente
Somente gente
De sentimentos ausente
De cabeça baixa
Seu olhar no chão
Não se levanta
Gente que também medo
De tudo...de toda a gente
Era invadido de medo intenso
Pelo som de cada tiro
Em sua mente de menino
Sangravam lembranças
De batalhas já sem esperanças!
A outros entes sós
Se juntou também
Tornando-se multidões de solidões
Todos são iguais
Somente, tão igualmente sós...
Tão igualmente iguais
Como lágrimas de sal
Lágrimas fatais
Sem sorrisos nem gargalhadas
Com a tez cinzenta
De tudo que nada lava
Rostos empoeirados
Onde só uma lágrima salgada cai
Abrindo sulcos e estradas
Se algum esgar de alegria aflora
Um pouco de tudo
Neles se partilha e brota
Um pouco de nada,
Com um de tudo dentro
Eles são os palhaços
Batem palmas
Fazem palhaçadas
Brincam com o passado
Como se lembram
Onde se respirava tranquilidade
Palhaçadas que acabam
Em silêncios de medo
Gritos e choros de desespero
Agarram-se uns aos outros
E com lágrimas em silêncio mudo
Unem-se naquele lugar
O lugar do medo
Como se fizessem um pacto
De luto e vida eterna
No meio de uma guerra
Que não é deles
Mas fazem parte dela
O mundo vai-se aos poucos
Esquecendo-se deles
A fome não os esquece
Porque a imagem duma lágrima
Não é o que parece
As cores da esperança
São um cinza emaranhado
Com raios de vermelho.
Ensanguentado.
Sem credos ou cores
Sem nacionalidade
Suas expressões,
Dizem tudo o que se passa
Palavras de sal em lágrimas
Pedem o silêncio das armas
Pois com armas a disparar
Não há palhaços, nem palhaçadas
Nem palmas
Só medos e lágrimas de sal
No lugar do quase podia tudo
Sem querer quase fazer nada
Linguagem que fala por si
E quase tudo diz
Numa lágrima de sal
Nada mais há para dizer
Não há palavras para afagar
Tão amargo lacrimejar
Só lágrimas caem...
Falam!
Já ninguém as ouve!
As palavras são abafadas
Pelo som das armas
Não se pode viver na indiferença
Sem verter uma lágrima salgada
Sem esperança
Num vazio de impossibilidades
Que não se quer tornar possíveis
Realidades não inventadas
Porque já nada há para inventar
Só simplesmente razões
Que a razão tão bem conhece,
Para amargamente chorar...
Lágrimas de sal...
Estão presentes em todo o lugar
Valas a céu aberto
Cheiro a morte
Não é preciso ver
Quem for cego
O cheiro poderá sentir!
Até ontem
Ana Rosa
Sem comentários:
Enviar um comentário