quarta-feira, 3 de junho de 2015

O Grito




 O GRITO

 O grito vem de dentro para fora
 É como o nascer da aurora
 Anunciando que novo dia vai nascer
 Nasce tudo de novo, outra vez

 Não gritamos
 No mesmo lugar ou estação
 Uns gritam de Inverno
 Outros gritam de Verão

 Que lindo é um grito
 Num dia de primavera
 Fazem-se declamações sobre flores
 E a correria dos pinceis dos pintores
 Tentando não perder os tons
 Das cores de ontem
 Pois o grito das cores
 Desvanece-se em cada dia

 Os pássaros que largaram os ninhos
 Esvoaçam e sabem que é tempo de partir
 Cantam hoje desesperadamente 
 O canto de ontem!...

 Viver um dia de cada vez
 É a perfeição da arte
 De gritar a vida
 É difícil viver da arte
 Não custa viver
 Custa sim saber do que viver.

 Aproxima-se a queda do anjo
 A noite fica maior que o dia
 Tons quentes de um pastel ardente
 O grito de não querer ficar nua
 O grito que se transforma em fúria

 Surge a velhice
 Desaparecem certas aparências
 De beleza e luxúria
 Ouve-se ao longe gritos de guerra
 Ordens de generais
 Incentivando seus homens
 Numa guerra que já denunciava sua queda

 É o grito de dor do Outono
 Que se apaixonou pela Primavera
 Que com gritos de dor
 Canta o seu amor ao Outono
 Que está por vir
 E em tons de murmúrio lhe diz:
 "Como és ainda quente e sombrio...
 Mas aqueces o meu grito já morto e frio"

 Uma borboleta, uma folha amarela de Outono
 A folha caiu
 A borboleta nela não pousou
 A borboleta caiu.

 Ouviu-se um grito já silencioso
 De mais uma vulgar queda 
 De um vulgar dia de Outono.


Até Ontem

Ana Rosa

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