O GRITO
O grito vem de dentro para fora
É como o nascer da aurora
Anunciando que novo dia vai nascer
Nasce tudo de novo, outra vez
Não gritamos
No mesmo lugar ou estação
Uns gritam de Inverno
Outros gritam de Verão
Que lindo é um grito
Num dia de primavera
Fazem-se declamações sobre flores
E a correria dos pinceis dos pintores
Tentando não perder os tons
Das cores de ontem
Pois o grito das cores
Desvanece-se em cada dia
Os pássaros que largaram os ninhos
Esvoaçam e sabem que é tempo de partir
Cantam hoje desesperadamente
O canto de ontem!...
Viver um dia de cada vez
É a perfeição da arte
De gritar a vida
É difícil viver da arte
Não custa viver
Custa sim saber do que viver.
Aproxima-se a queda do anjo
A noite fica maior que o dia
Tons quentes de um pastel ardente
O grito de não querer ficar nua
O grito que se transforma em fúria
Surge a velhice
Desaparecem certas aparências
De beleza e luxúria
Ouve-se ao longe gritos de guerra
Ordens de generais
Incentivando seus homens
Numa guerra que já denunciava sua queda
É o grito de dor do Outono
Que se apaixonou pela Primavera
Que com gritos de dor
Canta o seu amor ao Outono
Que está por vir
E em tons de murmúrio lhe diz:
"Como és ainda quente e sombrio...
Mas aqueces o meu grito já morto e frio"
Uma borboleta, uma folha amarela de Outono
A folha caiu
A borboleta nela não pousou
A borboleta caiu.
Ouviu-se um grito já silencioso
De mais uma vulgar queda
De um vulgar dia de Outono.
Até Ontem
Ana Rosa
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