quinta-feira, 4 de junho de 2015

Arena



ARENA

Que minhas palavras vos incomode
Não argumentem 
Não me inventem
Com teorias baratas
Não me queiram vender
Pózinhos de felicidade
Nem para a comichão

Não me convençam
Nem me limitem
Com vendas de jumento
Deixem-me enfrentar a realidade
Não quero duplos na minha vida
Quero ter a noção de sobrevivência
Não desvalorizem minhas ações
Não me imponham limites
Não me padronizem
Nem me castrem o sorriso
Não me amputem os sentidos
Para ter a real noção
Do que estou a sentir
Ver, ouvir e cheirar
Fazer a prova dos nove
Para uma vida menos azeda
Não me impeçam de caminhar
Mesmo com perna de pau
Não quero dentadura encardida
Quero pivôs de aparência saudável
Para arreganhar a taxa 
Aos tachistas

Quero mostrar eficiência 
Como deficiente
Deem-me a provar o impossível
E o possível 
Deixem-me ser o desperdício
E o imprescindível
Não me comprem por preço nenhum
Sou como brinde no bolo-rei
Que vos pode partir um dente

Não vendo pareceres
Nem opino
Não adivinho
Sou carismática
Mastigo pastilhas elásticas 
Com raiva...
De marca reacionária

Não às datas inúteis
Como sendo anti-inflamatórios
Não higienizem meu sorriso
Sorrir não é pecado
Não me envenenem 
Para não morrer!
Podem dar-mo
Para morrer sem sofrer!
Não me prescrevam fármacos
Com principio ativo da "extrema unção"
Que os médicos pratiquem atos humanos
Para humanos
Não de animais para animais
Acabem os cabeleireiros
Que fazem extensões políticas
Em todas as áreas

Deixem-me viver no paradoxo 
Na surpresa 
No inevitável
Sem proteções
Não me tirem as armas com que nasci
Nem o capacete das lembranças
Para que não caia em contradanças

Quero questionar meus limites
Ter o poder de escolher
Não quero obras feitas
Quero ver cada pedra da sua feitura
E ter a noção de causa e efeito
Para que todas essas obras
Tenham a minha marca de água
Marca que me caracteriza

Não à destruição e ao preconceito
Que se entenda a sabedoria da ação
Princípio meio e fim de todas as coisas
Para que não haja a tentação ideológica
De aniquilar a razão da existência
De todas as substâncias da natureza
Para que um abanão na estrutura
Não deite por terra as razões da vida

Não limitem minha consciência
Nem meu entendimento
Para que possa ver a realidade
Como sujeito da ação

Não me adocem a boca
Não me domestiquem
Não me ponham etiquetas
Com preço marcado
Deixem-me lutar pela sobrevivência
Como touro numa praça
Com cornos afiados
Pronto para morrer
E lutar pela vida

Não me deis bolas de cristal
Nem reis, valetes ou damas de copas
Vestidas não com roupas....
Mas com marcas

Não me deis a cheirar
Aromas a veneno
Com rótulos de marca "adoro"
Não quero diplomas
De profissões que nunca terei
Não me tirem tempo de vida...
Com fatalismos
De comadres enfatizadas pela vida
Com camas e louça por tratar
Levando uma vida sacrificada
De tanto quadrilhar

Deem-me só o limite
E um pouco de ilusão também
Deem-me uma passagem
De ida e volta para o futuro
Para poder remendar o presente

Quero pintar um quadro
Com uma só tinta
Que abarque todas as cores
Deixem-me subir e cair
E que me possa levantar
Deixem-me partir e voltar 
Caminhar e retroceder
As vezes que for preciso
Para que tenha a ideia do risco 

Não me cortem as asas
Deixem-me voar
Deixem-me cair no poço
Bem no fundo
Deixem-me saber porque la caí
E quando bater no fundo
Não me deis a mão
Para que sofra com a subida
Deixem-me sangrar as feridas
Que o sangue se misture nas roupas
E de lá saia uma bandeira universal

Vosso bem querer não será em vão
Serei mais forte que vocês
Terei um espirito vivo
Vocês morrerão de velhice precoce
Viver com risco é viver mais forte
Se não morrer no caminho
Poderei ensinar-vos
A viver melhor
Com mais sabedoria

Não custa viver
Custa é saber porquê
E para que vivemos
Não há verdades absolutas
Quando se auto analisarem
Em consciência
Estarão cada vez mais perto de vós
Não se abandonem
Quem tem asas... nasceu para voar

Até ontem

Ana Rosa

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