Apenas eu
(...) Trilhava caminhos de terra alagada
Numa mão, trago meu coração
Noutra, o perfume de toda a vegetação
da madrugada...
Trago meu olhar um lírio,
O mais belo e perfeito, bem cedo colhido,
entre os juncos do riacho
Chorando pingos de geada
As manhãs, são planícies abrigadas!
Ninhos em vales de montanhas vastas!
As aldeias, vidas com casas
Ainda estremunhadas, mas já acordadas
As casas, de neve branca caiadas
As vidas, são telhas com alma,
Pingando luz lisa, em gotículas de água
Como se nuvem parisse suor e lágrimas
As montanhas, recolhem suas sombras
Guardando-as em sua abada.
--Quando vier apenas eu
--Não fales, não digas nada
--Olha-me, como lírio por ti colhido
--Sente-me, em seu cheiro emanado
--Algum dia o poderias ter tido
e eu a ti to poderia ter dado!
--Abraça-me, simplesmente abraça-me
--Surpreende-me, nos teus instantes raros
de terra em divagares...
Como lírio que acorda
À minha passagem e se me empresta
Antes de chegares (...)
Até ontem
Ana Rosa Cruz
Arte Serge Marshennikov