quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

No lugar do teu nome



No lugar do teu nome

(...) No lugar do teu nome.!
Deixa pousar sobre os ombros
a luz versátil das minhas mãos pueris!
Mantêm deslumbrados os meus dedos.
que te folheiam docemente.. 
Ouvindo a tua voz poeta...ampara no teu sorriso moreno... 
Os peregrinos sequiosos..
de pétalas transparentes...
Ouve os afectos purpúreos escorrendo a minha face..
vulnerável aos desejos!
Estende a tua mão impúbere
e abriga o descampado da palavra..da palavra! (...)

Ana Rosa Cruz

e

Maria Batista







Gestos




Gestos

(...) É triste que as pessoas não se entendam,
falando a mesma língua!...
Entender o outro, pode ser algo mais fácil que difícil!
Muitas vezes, o gesto é tudo!
As mensagens do corpo, são gestos explícitos
 forma de tudo dizer em mimica, sem que nada se tenha ouvido!
Sem que sejam ditas,
 ...letras e sílabas!... 
Os símbolos traduzem mil ou mais línguas
Há bocas demasiado grandes,
nelas se lhes enrola a língua
Talvez por ser demasiado comprida 
não lhes cabe na boca, por tanta asneira dita!
Mais cedo, que tarde, acabam com ela na garganta entalada
Muitos acabam por engoli-la, 
outros vomita-la! (...)

Ana Rosa





sábado, 14 de outubro de 2017

Eu sinto


Eu sinto...

(...)Sinto falta de me abandonar nos outros...
Sentir o cheiro das palavras
Sentir os versos da terra molhada, como poema de chuva miudinha; 
que molha meu corpo como Bruma de ternura.
Tal como a “era”, que o enlaça! (...)

Ana Rosa Cruz

domingo, 1 de outubro de 2017

Porta



Porta

(...) A porta do meu coração
rubra, já não é mais
agora, é negra como breu
de felicidade já não bate
nem por saudade
e tão pouco por paixão.
Minha carne arrefeceu
a chave já não tem porta
trinco carcomido pela ferrugem
o resto, foi madeira comida
que com o tempo encheu o buxo
ao bicho do caruncho.
O endereço que tens é antigo
Não podes à morte dar ideia de vida
por mim não batas à porta.
Já terei partido.
A casa há muito está vazia.
Ninguém da morte ressuscita.
Não dês passos em vão.
Esquece essa antiga ilusão.
As janelas ruíram...
aquelas, onde por ti esperava
passavas e para lá não olhavas
ou fingias não olhar.
Nem sempre vinhas
ou passavas por outro lado
por entre sombras frias.
Hoje é uma casa triste
quartos vazios sem luz
com o leito vazio.
Já não há candeia, apagou-se.
A chama que ardia
dentro do peito, extinguiu-se
faltou-lhe o azeite, consumiu-se.
Tanto tinha para te dizer
nunca me viste nem ouviste.
Meu coração esfriou
aos poucos deixou de bater
parou de esperar pala tua vinda
transformou-se em pedra fria.
Hoje, já vens tarde.
As horas morreram de tristeza e cansaço.
Do passado já nada me exorta.
Dia que morre, jamais torna a ser dia.
À porta do passado não batas mais.
Se a alguém perguntares
a razão de tão triste desenlace
que te digam a verdade, só a verdade...
Que no final de mim, somente por ti sorri
para que nunca na vida chorasses
quando em vão me procurasses
e não mais encontrasses
nem porta, nem o meu coração
tudo daria para que me amasses
nem que fosse um só dia.(...)

Até ontem

Ana Rosa

Arte Kemal Kamil




Palavras




Palavras

De palavra em palavras
A angustia se transforma em versos
De verso em versos
A tristeza se transforma em verdade
De verdade em verdades
A luta se transforma em vida
E a vida não se resume numa folha de papel
Ela transcende
(des)amordaça
Se torna poesia
Onde morre o autor e nasce o poeta
Eternizando assim a palavra
A dor
A alegria
O tempo

Ana Rosso
Publicado por Ana Rosa  Cruz


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Lembrança



Lembrança

(...)Só corremos o risco de ser uma lembrança 
Quando enveredamos pela via do esquecimento (...)

Ana Rosa Cruz

Arte Internet





Pássaros ausentam-se



Pássaros

Hoje sinto-me abandonada!
Os pássaros partiram 
e não mais voltaram!
Nunca pensei sentir tanto sua falta
A serra vestiu-se 
de um longo manto negro,
 como se o distinto a fizesse triste 
e desolada viúva enlutada...
Hoje tudo começa de novo,
...do nada!
Os pássaros partiram 
...antes de tempo...
Não tem as sombras frondosa 
dos troncos repletos de folhagem 
Frágeis e quebradiços 
de queimados galhos
Não ouço grilos nem cigarras
Sinto o cheiro a terra queimada
Amanhecer crepuscular de profundo pesar, 
ouvido na ausência 
do seu cantar silenciado, 
Porque as cinzas não podem falar e é,
 com actos de amor e respeito 
que se conserva a "natureza"
Penso que só se dá o verdadeiro valor 
a algo,quando se vive no vácuo 
Por isso é que o poeta inventou
 poemas de saudade
A maior demonstração poética 
de dor é pena sentida 
por toda a humanidade 

Até ontem

Ana Rosa Sãozinha Cruz



Receita



Receita

(...) É ensinando 
a quem quer aprender, 
que é preciso saber
O peixe não aparece 
no prato, como algo mágico,
Pronto a comer
ou vindo do super-mercado... 
Depois de pescado
Tem que ser limpo amanhado, 
temperado e antes 
de comido, cozinhado...
Todo o começo 
tem um princípio, 
antes de tudo, 
De uma cana, se precisa 
depois de a aprender a fazer, 
tem que a saber utilizar 
Colocar nela o "Isco",
nome dos peixes 
tem que os conhecer 
antes de os pescar, 
pois nem tudo o que vem a rede é peixe 
Finaliza-se então 
esta receita, 
indo ao forno a assar...
Mas o segredo desta 
não esta na fome, 
ou na vontade de comer, 
mas na virtude 
de um mestre, 
tem por nome, 
o pescador, 
velho e sábio 
Lobo do Mar, 
pois só ele tem a capacidade 
e Don de ensinar 
quem deseja 
aprender a pescar. (...)

Ana Rosa Cruz

Arte Ettore Del Vigo



Hora


Hora

(...) é na hora do adeus, que temos o verdadeiro discernimento de saber que jamais poderemos compartilhar com os outros as belezas do dia de o amanhã (...)

Ana Rosa Cruz






Tás...Tás!


Eu 
Tô que tô!...

(...)A pois estás!...
Comeste um bom almoço;
peru com batata assada, no forno, 
uma litrada da adega 
" do Ti Tareco Tinhoso" ,
... ficaste grosso!
Vai dando uns dedos de conversa,
 aninha-te numa cadeira, 
dorme uma soneca,
 vem por estrada direita!
Sempre em linha reta
 e sem pressas!
Pelo caminho mais longo,
sem cortar atalhos p'la floresta, 
as bruxas andam soltas 
e todo o borracho é presa certa
Pois quem come e bebe assim
Não deve de se por ao caminho
Ou entrepassa! (...)

Ana Rosa




Linhas em branco



Linhas em Branco

(...) Entre linhas da vida
Sempre existiram palavras 
nunca escritas
Espaços em branco,entre uma e outra linha, 
Como que esquecidas em constantes reticências 
Sem pontos de afirmação, interrogação, ou vírgulas
Aí existo e deslizo 
Aí escondo-me e idealizo
Exponho-me e desdigo
Entrego-me no abandono
E nas sombras desses linhas, está minha vida 
Reerguida depois de desmoronada 
Revelada depois de escondida
Encontrada depois de perdida.(...)

Ana Rosa




Mascarilha



Mascarilha

Nosso amor a nada se compara
Tem leitura bem difícil
Como diagnosticar doença rara
E que muita gente baralha!
Espaços, tempos e contratempos
Amamos ao som duma melodia
Em ritmo apressado ou lento
Idêntico ao de outras gentes
Escrita com tinta invisível
Lida no solfejo da vida
Com outros carateres de pauta
Verdadeira e bela melodia
Verdadeiros e intensos momentos
No ritmo da vida, no dia a dia
Histórias verdadeiras e antigas
Contam a realidade da vida
Mas que nada tem de hipocrisia
Somente uma negra mascarilha

Até ontem

Ana Rosa

@crz/221/ direitos autorais registados

(Arte de Kemal Kamil)





Não me digas a ningém



Não me digas a ninguém....

Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti!
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis; 
Que alagámos de beijos quando eram outras horas,
nos relógios do mundo
Leva-o depois para junto do mar;
Onde possa ser, apenas mais um poema, que eu e tu escrevemos,
Com nossos corpos delirantes...
Assim que a madrugada se encostava aos vidros 
Tinha medo de me deitar só com a tua sombra... 
Deixa, que nos meus braços pousem então as aves... 
trazendo entre as penas 
a saudade de um verão carregado de paixões
Planta à minha volta uma fiada de rosas brancas; 
Um cordão de árvores, que perfurem a noite.;
A morte deve ser clara, como o sal na bainha das ondas;
A cegueira sempre me assustou!
Ceguei de amor, 
mas não contes a ninguém que foi por t!
Quando eu morrer, deixa-me ver o mar; 
Lá do alto de um rochedo e não chores, 
Nem toques com os teus lábios a minha boca fria. 
E promete-me, que rasgas os meus versos;
Em pedaços de tiras tão pequenos, como pequenos foram sempre
os meus ódios!... 
Depois, lança-os ao mar
Parte sem olhar para trás, nem uma única vez: 
Se alguém, os vir brilhar ao longe na poeira,
Cuidará que são flores que o vento despiu!
Estrelas, que se escaparam das trevas!
Pingos de luz, lágrimas de sol, 
Penas de um anjo, que perdeu as asas por amor.

Publicado por Ana Rosa Cruz

Maria do Rosário Pedreira

Arte:Mariska Karto




Nova capa da pagina ce poemas "Universo do Pensamento


Demora-te em mim...



Demora-te em mim...

(...) Demora-te em mim meu amor
Despe-me; 
Com o silêncio dos teus dedos
Beija-me com tua demora
Estes meus lábios dormentes 
Demora-te em mim mais um momento;
Molda-me à tua imagem, 
Como se me moldasses em areia molhada 
Acaricia-me com teus dedos levemente
Como se eu fora areia quente
Entrego-te minha chave
Abre a minha intimidade
Encontrarás em mim um poema vivo
De corpo e alma imaculado
Rosa alva, pronta a ser desfolhada
Declama o poema que de mim tomaste 
Tua serei eternamente
Todas as infinitas alvoradas!
De ti estou sequiosa
Vem matar minha sede
Neste belo e grande momento 
Degustaremos o néctar dos Deuses.
Que se misturem nossos cheiros
Acaricia com ternura; 
Meus longos cabelos negros
Explora os meus segredos
Há muito que te espero
Para que todos os desvendes.
Nesse teu retido beijo 
Sinto o teu ansioso desejo
Preciso do teu corpo junto ao meu
Nosso clímax será verdadeiro apogeu
Com música da lira de Orfeu
Demora-te ao amar-me
Ama-me como onda do mar
Onda que vem e vai, vem e vai
Quando saciados nossos desejos;
Demora-te em mim um pouco mais
Ainda nos resta tempo
Para nos esvairmos em beijos.
Mesmo cansados, demora-te em mim.
Deita a cabeça em meus seios molhados
Bebe neles todo o sabor salgado
Do suor de nossos corpos excitados
Rostos ruborizados repletos de felicidade
Ao amarmo-nos desta forma
Aos deuses fica provado
Que nosso amor;
É arte! (...)

Ana Rosa Cruz

Arruda dos Vinhos - Portugal





domingo, 17 de setembro de 2017

Fenix - Especiarias





Foto da localidade--- Assenta---Ericeira----PORTUGAL



Meditação


(...) Tudo chega, mas o tempo não volta(...)

Ana Rosa


Morte



Morte

(...) Morte... como és tão forte!
Não há corpo que te resista 
Nem espada que te corte
És sedenta e mórbida
Com ludibriante retórica 
Não deixando contudo
De seres bem nobre
Tua passagem pelo mundo
Deixa-o mais pobre
Simbolizas o fracasso
E também a má sorte
Tens uma longa história.
Acendes os candelabros
De ouro, prata ou cobre
Como amuletos de vitórias.
Ao teu poderoso querer 
Ninguém lhe faz frente!
De meus braços tiras
Meu mais precioso ente
Deixando-me empobrecida
Tens precisão em tirar a vida
Precisão muito cirúrgica
Por todos os seres és respeitada
És o mistério da finalidade
Sem preferência por sexo ou idade.
Profecia sangrenta
O fim do caminho
Tudo contigo acaba
Mentira, sobranceria e vaidade
O princípio da dor da saudade.
Da carne serás
Um profético carrasco
Que com teu sublime prazer
Ergues o teu machado
És relíquia da antiguidade
Pavor da humanidade
És o símbolo do nojo e oblação
Resolves dores em aflição
És um verdadeiro credo
Sem qualquer contradição
Tua aparição não carece
De qualquer apresentação
És árida e fria
Cheia de dignidade
Impões teu carisma
Justiceira empunhando espada.
Chegas docemente
Como gélida aragem
Dominas e abres feridas
Provocas sangramentos
Que se perdem pelos tempos
E por todas as paragens
Abraço o corpo que pari
Já sem vida
Abandono-me ao teu capricho
Leva-me também contigo!...
Aconchega-me em terra lavrada
Terra solta é menos pesada
De mim só levarás metade
Nunca de mim a totalidade.
Para ti não restará nada
Serei somente um retrato
Para matar a saudade 
Que de mim fica!
A vontade de contigo lutar 
é infinda! 
Minha carne, por ti 
não será consumida... 
Oferecer-me-ei à fornalha
Unicamente restará para ti
Um punhado de cinza (...)

Até ontem

Ana Rosa Cruz