domingo, 17 de setembro de 2017

Morte



Morte

(...) Morte... como és tão forte!
Não há corpo que te resista 
Nem espada que te corte
És sedenta e mórbida
Com ludibriante retórica 
Não deixando contudo
De seres bem nobre
Tua passagem pelo mundo
Deixa-o mais pobre
Simbolizas o fracasso
E também a má sorte
Tens uma longa história.
Acendes os candelabros
De ouro, prata ou cobre
Como amuletos de vitórias.
Ao teu poderoso querer 
Ninguém lhe faz frente!
De meus braços tiras
Meu mais precioso ente
Deixando-me empobrecida
Tens precisão em tirar a vida
Precisão muito cirúrgica
Por todos os seres és respeitada
És o mistério da finalidade
Sem preferência por sexo ou idade.
Profecia sangrenta
O fim do caminho
Tudo contigo acaba
Mentira, sobranceria e vaidade
O princípio da dor da saudade.
Da carne serás
Um profético carrasco
Que com teu sublime prazer
Ergues o teu machado
És relíquia da antiguidade
Pavor da humanidade
És o símbolo do nojo e oblação
Resolves dores em aflição
És um verdadeiro credo
Sem qualquer contradição
Tua aparição não carece
De qualquer apresentação
És árida e fria
Cheia de dignidade
Impões teu carisma
Justiceira empunhando espada.
Chegas docemente
Como gélida aragem
Dominas e abres feridas
Provocas sangramentos
Que se perdem pelos tempos
E por todas as paragens
Abraço o corpo que pari
Já sem vida
Abandono-me ao teu capricho
Leva-me também contigo!...
Aconchega-me em terra lavrada
Terra solta é menos pesada
De mim só levarás metade
Nunca de mim a totalidade.
Para ti não restará nada
Serei somente um retrato
Para matar a saudade 
Que de mim fica!
A vontade de contigo lutar 
é infinda! 
Minha carne, por ti 
não será consumida... 
Oferecer-me-ei à fornalha
Unicamente restará para ti
Um punhado de cinza (...)

Até ontem

Ana Rosa Cruz



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