sexta-feira, 31 de julho de 2015
sábado, 25 de julho de 2015
domingo, 19 de julho de 2015
sábado, 18 de julho de 2015
quinta-feira, 16 de julho de 2015
Eutanásia
EUTANÁSIA
Os corvos esvoaçam lentamente
Procuram nos nossos destroços
Íntimas feridas de pontas soltas
Remorsos...
Por não deixar acontecer
O bem que se poderia fazer
Sonhos aprisionados
Que acabam por cair e apodrecer
Numa noite sem amanhecer
Sondam-nos com seu penetrante olhar
Impedem-nos de gritar
O grito é abafado pelo maldito corvejar
Provocando um arrepio de mau estar
Veem para além de nós
Leem o nosso resumo devasso
Sentem nosso lamentar
O nosso medo
Sem qualquer arrependimento
Leem em nossa alma íntimos segredos
De partir, não voltar e querer ficar
Sentem a turbulência em nossas almas
Aquietam-se e esperam pacientemente
Para no limite nos agarrar e cegar
Na esquina onde dobra a hora
A morte nos implora
Como praga rogada
Que aos poucos nos esmaga
São necrófagos....
Da nossa realidade morta
O tempo passa por nós
Sem permissão
Desfruta-nos e decompõe-nos
Tornamo-nos carniça apetecida
Para estes seres negros
O tempo não passa
Vão esvoaçando
Cheios de mortal graça
Sentem a abundância de nós
Restos que a cada dia escasseia
Nosso residual mortal
É o festim da passarada
Aqui, a morte é assistida
Com apetite, pompa e circunstância
Até ontem
Ana Rosa
segunda-feira, 13 de julho de 2015
Embrião
EMBRIÃO
É vaga de ar fresco
Duma vida ainda indecisa
Nos ímpetos contida
Sem entender ainda
O que significa a vida
Vaga ainda questionada
Embrionária...
Partícula ainda incompleta
O princípio de tudo
E ao mesmo tempo
O princípio e o fim de nada
É a fúria do querer acontecer
Fazer parte da vida
Parte de todo o sentir
No princípio, meio e fim
Do nascer e morrer
É um invasor
Que se afogou nos oceanos
Gotas de fluidos trémulos
Por implantar
Que se deixou em silêncio
Representando a dor
Do que se deixou de escrever
Por falta de tempo
E por contratempos
É partícula do impasse
Atrasa a hora de nascer
Na imensidão do mundo da graça
Não tem espaço
Neste local infértil
Útero seco e inútil
Presente mas escuro
Escuro como breu
Sem esperança de dar à luz
Nem oportunidade de ouvir
Uma canção de ninar
Nem escutar histórias
"De palavras que nunca te dirão"
Até ontem
Ana Rosa
sexta-feira, 10 de julho de 2015
domingo, 5 de julho de 2015
quinta-feira, 2 de julho de 2015
Pão Nosso
PÃO NOSSO
Sinto em ti o passar do tempo
Saudoso cheiro a pão quente
Penso-te como um indefinido
Longínquo mas sempre presente
Com clemência num pedido
Para que a ceifa fosse feita
Lá longe no tempo
O vento tocava-te e cedias
Em inclinações e dependência
Belos grãos de trigo em espiga
Que nossos olhares deleita.
Fundo-me em ti
Como um termo e começo
De colheita urgente
Numa antiga melodia
Cantam-se louvores
Em tua honra e existência
Com infinita harmonia e beleza
Cantiga que se cantava melhor
Com barriga não vazia
Padecerás numa mesa farta
Ainda vazia por enquanto
Nela sem nada
Tempo de colheita...
A foice ceifa-te
Abrindo feridas de morte
O que dará vida a muita gente
Nossa mesa enfeitará
A fome findará
É sublime a tua presença
Em divinas fatias
Pão numa mesa
É sinal de alegria
Veem-me à mente receios
Que tua falta se sinta!
Entristecida e envelhecida
Penso-te com saudade
Lembro-te já moído
E trabalhado em massa finta
Será feito pão na fornalha
De forma breve e serena
Á beira do forno alguém cantava!
A massa era abençoada
Nada se desperdiçava
Em cada ceifa que findava.
Era um tempo de alegria
Alimento eterno
Para o corpo e o espírito
Tornando faces mais rosadas
Nos rostos de homens famintos
Ceifa concluída
Pedaços de escrita amarelecida
Da cor de triga-milha
Pedaços de mais uma colheita
Com mais sabedoria
E menos tempo de vida
Como espiga de trigo
O pão nosso de cada dia
Até ontem
Ana Rosa
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