domingo, 30 de dezembro de 2018

Confia



confia!

(...)faz de cada pena uma alegria, 
traz contigo um sorriso 
o mais bonito, se ainda dele não te  desfizeste 
constói com ele um ninho
o melhor que puderes e souberes
espera a chegada das andorinhas
e se  algum mal  hover insatisfeito
lembra-te de um moinho rodando no vento 
...como é belo!
...como a paisagem à sua volta, enriquece
colhe  flores no jardim do teu peito
todos os sonhos do universo
Eterniza cada momento como segredo
Fecha o olhos ao sofrimento
olha-te no espelho, veras  teu reflexo
Terás feito de tua dor,
 a carne do teu próprio verso!...(...)

Ana Rosa Cruz



domingo, 25 de novembro de 2018

Azenha




Azenha

(...) De granito denso do chão dos ventos.
Pedra pura, opaca, da humidade fez do musgo,
seu único adorno e luxúria, dando honra à sua lisura
Dela, aos poucos, foi fazendo casa sua!
É escura e sombria ... nada pode ser mais puro
Tem o toque áspero de afiadas arestas
ou trilhos para marcar, quando mais não puder 
...sua própria sepultura!...
Lidou até ser velhinha, com orgulho e despeito,
rodando nos dias do ano inteiro,
tendo o rio como leito e de palha seu travesseiro!
Moendo grãos, transformando-os em farinha 
sem que trabalho final visse feito!
Era esta a razão de ser de sua vida
Mós de saudades, rodadas em seculares movimentos 
Mós de tormentos...mós de ontem e agora
Mós de pensamentos, como o rio,
sempre presentes a todas as horas...
Chora hoje suas ruinas ...  de dentro ...  e de fora!...
Grânulos a rebrilhar na massa de corroída mica,
quartzo, feldspato, brilha quando p'lo sol tocada!
Tem olhos e já não vê, sempre soube,  
que seu peso esmagava outrora a fome!...
Não tem boca, não come, mas fala ... 
... as pedras também falam
...em surdina, através das marcas do tempo
...em profundo silêncio
é pedra  redonda apenas.
Nela se concentra a terceira dimensão.
Não necessita de se verbalizar, fala de cor sua razão.
Se separada for de sua azáfama suprema, ou função
colocada numa e qualquer berma, pisada como chão
como se sua longa história fosse pequena, 
sem significado contada em vão
Separaríamos injustamente o corpo... do poema
Há como que um verso cinzelado e duro
em cada pedra colocada ao abandono no chão.
A muitos providenciou o pão
Aos poucos, ao olhar tanta indiferença 
no preservar tão preciosa recordação,  
endurece e tornar-se-á também em pedra de mó,
a válvula mitral de meu coração! (...)

Ana Rosa Cruz




domingo, 11 de novembro de 2018

O canto




O canto

O cantar da chuva
no xaile sombrio da noite,
fragiliza-me os ossos
mas é bálsamo que se liberta
no abraço do silêncio...
Recordo aquele doce que apetece
com sabor de tempo,
saudades congeladas em pedaços de sonhos,
apertos de mão,abraços e beijos
com molho de pegadas de memórias...
A noite cobre-me a pele fria,
mas enfeitiça-me os dedos finos
com pézinhos de dança
num formigueiro de música
com perfume de orvalho...

Ana Rosa


No alpendre




No alpendre

Os laçarotes brancos da chuva
deixaram de raspar
o lado de fora da janela,
a sombra macia do tempo
rega o musgo fresco da noite...
O alarido do rolar da pedra do isqueiro
acorda a harmonia do silêncio,
o cigarro luminoso sulca                  
os lábios tintos palpitantes
e pinta nos dedos
bigodes amarelos de nicotina...
O tango da fumaça dissolve-se
na réstia de lua perfumada
que fura o vidro da janela,
e com medo dos farrapos da solidão,
um cinturão de saudades
procura abrigo
debaixo da memória de um beijo...
As arestas do frio asfixiam
as lágrimas ternas da neblina,
o lento castiçal do firmamento
abre a joalharia das estrelas
e com elas construo o meu alpendre
suspenso nos músculos do céu....

Ana Rosa Cruz


São Martinho





Dia de São Martinho

(...) Celebra-se hoje o dia de
... São Martinho!...
Façam jus a este dia
Abram vossa adega,
convidem amigos
furem-se as pipas.
Celebrem a amizade,
em torno desta dádiva
preciosa da terra vinda.
Bem maior que estes, não pode haver
E se o Santo andar por aí,
convidado está,
a uma boa pinga vir beber
Provem vosso vinho,
desde a colheita, quieto vos espera.
Abençoado néctar dos Deuses!
bebam um ou dois "copos de três"
Com moderação,
...pois, "embebeda"!
Acompanhem com castanhas
Acabadinhas de assar, ou cozer
Bem quentinhas,
comam à vontade,
todas as que vos apetecer.
Dizem que as castanhas engordam!
A castanha não engorda!
Que frase absurda acabam de dizer!
Quem irá engordar, decerto serão vocês,
depois de muitas comer!(...)

Ana Rosa Cruz




Remendos



Remendo

(...) Sempre senti o que mostrei,
em verso ou em prosa escrita.
O meu outro lado escondido
Aquele gosto p’lo obtuso
escangalhado e descosido.
Quantas e quantas vezes
dos farrapos de minha alma
costurei meu próprio vestido?
Quantas, não lembro bem
e se o lembrar também não digo!
Tudo o que sinto é remendado
e se soubesse medidas certas tirar
não erraria tanto!
Ás vezes o remendo, é menor que o buraco
---Não comentem!...
 ---Pois errar é humano!
Com tecidos que me vão dando,
faço jus à minha humilde habilidade
---O que muitos desprezam,
outros estão desejando!
Depois, do delido cerzido,
fica como novo!
---Ninguém tem nenhum igual ao meu,
nem tão pouco parecido!
Pronto está, a ser vestido!(...)

Ana Rosa






quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Pardais



Pardais

(...) Quando partem os pardais
apaga-se parte da aguarela da cidade
impossível ser restaurada.
Nada será como dantes.
Chuva miudinha, vem sem ser convidada 
A cidade fica despida 
de alguns dos seus encantos, 
vestindo-se de outros tantos!
Pálidas folhas morrem uma a uma,
tombando nas escadarias de mármore.
Árvores  vestidas de mil cores;
amarelos, castanhos e verdes desmaiados.
Os plátanos da cidade
despedindo-se de sua nobreza,  
altivez e vaidade, vergam-se hoje
recebendo com vénias o Outono,
com vestias de oiro e brocados.
Estremecendo ao sopro de fria brisa
tenores cheios de graça e encanto
estão agora de partida.
Em jeito de pequenos marialvas
nas asas, têm como bagagem 
o poema d'um fado.
Nas cordas vocais, uma guitarra tocando
nunca esquecendo Lisboa, 
enquanto vão voando,
como se a quisessem levar também consigo
para lugares distantes, 
mais amenos e menos frios.
Quando um fado no outono se canta
a saudade dos pardais, é tema  que encanta!
De voz embargada, o fadista
questiona entoando no seu canto,
como um bando de pequenos pardais  
pode ocupar em nossas vidas 
um espaço tão gigante! (...)

Ana Rosa




sexta-feira, 5 de outubro de 2018




O Sacristão
Há quem morda e quem ladre

no antro da confusão.
Quem morde é o padre
e culpa-se o sacristão!...
Na vida somos espelhos
que refletem igualdades
verdadeiras imagens do bem e do mal
seja civil, general, freira ou frade.
À sombra do evangelho há quem morda
p’la calada sem que ladre.
Sem saber a origem desta finita questão
quem será o verdadeiro ladrão
se o padre, ou o sacristão!...
Há quem abrigue ideais sinistros
repugnantes em servidão
palmas aos ministros dadas.
Depois do beija-mão, que faz parte da missão
cai bem e vem da tradição!
Gera-se a confusão,
o coro das beatas entra em desafinação
irrita-se o sobrolho do ministro
num esgar de sinistra irritação.
Cai a Trindade e o Carmo
O padre fica mal visto 
quem paga é o sacristão!...
Pisam Deus a vida toda
repetem seu nome em vão
sem qualquer fé ou devoção.
Algumas figuras da boda
nunca reconhecem ninguém como irmão
“Venha mais vinho, carne e pão”
Diz o padreco, misturando fé com nutrição
mas quem tudo paga é o sacristão!...

Feras



Feras
(...) Arda e queime 

sobre ti o mundo todo!
Que tentem abafar o som da tua voz 
como se fora d'um sonhador louco
ou de um visionário velho e tolo.
Com ideais arredados como estorvo
e tuas palavras proferidas,
colocadas em saco roto! 
A teus ideais, puros e justos
lhes chamem de lodo!
Que riam com sarcasmo atroz 
juízos vindos da tua voz,
ouvidos em esgares de gozo!
Enfrenta pois o mundo inteiro,
mergulhado numa letargia,
de falsa harmonia 
que domina e impera como lodo!
Sê então o primeiro da tua espécie 
o exemplo, a voz emergida 
das profundezas da terra e grita,
mesmo que te tenham cortado a língua.
Abre as portas do circo,
sê palhaço, trapezista ou equilibrista.
Sê o domador que há muito se espera
sem receio de lutar a sós
contra um milhão de feras! 
Deixa que se eduquem ideais,
que todos entrem na festa!(...)

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Línguas mortas




Língua morta

(...) Permanecia em tua boca
o cansaço das palavras
de somente serem palavras.
Tinhas na boca o hálito amortalhado
das línguas mortas.
em cripta sepultadas
extinguia-se em tua boca
o ultimo verbo de tua espécie
Canícula no silêncio
sílaba derrubada descontinuada
limbo, sonho
em tempo de arestas !(...)

Ana Rosa cruz


Tudo




Tudo

(...) Muitas vidas nada têm de estorvo ou embaraço!
São vigas de cimento e aço
como se chovessem diariamente
potes de melaço em seu regaço.
Tudo lhes é facilitado,
que se torna difícil a escolha de cada agrado.
Mas para quem deseja ascender às regiões mais puras,
a vida nada tem de leve, tudo é pesado e duro.
Tudo é rude, agreste e amargo...
Um galgar penoso, pedra sobre pedra, passo a passo,
golpeados pés feridos e ensanguentados!
Para atingir lugares mais altos
necessário é  pisar muitos espinhos e cardos! (...)

Ana Rosa Cruz

https://www.facebook.com/universodopensamento?fref=ts

https://www.facebook.com/groups/poesiasopoesia61/?fref=ts



segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Impulso




Impulso

(...) ...sempre preferi mostrar o que sou, na hora certa
para que nunca me culpem de ter esquecido
de dizer o que não era!...(...)

Ana Rosa



Tudo




Tudo
(...) Muitas vidas nada têm de estorvo ou embaraço!

São vigas de cimento e aço
como se chovessem diariamente 
potes de melaço em seu regaço.
Tudo lhes é facilitado, 
que se torna difícil a escolha de cada agrado.
Mas para quem deseja ascender às regiões mais puras,
a vida nada tem de leve, tudo é pesado e duro.
Tudo é rude, agreste e amargo...
Um galgar penoso, pedra sobre pedra, passo a passo,
golpeados pés feridos e ensanguentados!
Para atingir lugares mais altos
necessário é pisar muitos espinhos e cardos! (...)

segunda-feira, 10 de setembro de 2018




O pior de tudo

(...) O pior de tudo;
é estar só, na companhia de alguém!
Nunca se necessita de companhia
para estar sozinho!
Está-se simplesmente só!
Ou talvez, aos poucos,
 me vá perdendo e encontrando
no grande vazio de todas as coisas
totalmente cheio de pessoas,
Escondidas por detrás
de suas próprias sombras!  (...)

Ana Rosa Cruz