Pardais
(...) Quando partem os pardais
apaga-se parte da aguarela da cidade
impossível ser restaurada.
Nada será como dantes.
Chuva miudinha, vem sem ser convidada
A cidade fica despida
de alguns dos seus encantos,
vestindo-se de outros tantos!
Pálidas folhas morrem uma a uma,
tombando nas escadarias de mármore.
Árvores vestidas de mil cores;
amarelos, castanhos e verdes desmaiados.
Os plátanos da cidade
despedindo-se de sua nobreza,
altivez e vaidade, vergam-se hoje
recebendo com vénias o Outono,
com vestias de oiro e brocados.
Estremecendo ao sopro de fria brisa
tenores cheios de graça e encanto
estão agora de partida.
Em jeito de pequenos marialvas
nas asas, têm como bagagem
o poema d'um fado.
Nas cordas vocais, uma guitarra tocando
nunca esquecendo Lisboa,
enquanto vão voando,
como se a quisessem levar também consigo
para lugares distantes,
mais amenos e menos frios.
Quando um fado no outono se canta
a saudade dos pardais, é tema que encanta!
De voz embargada, o fadista
questiona entoando no seu canto,
como um bando de pequenos pardais
pode ocupar em nossas vidas
um espaço tão gigante! (...)
Ana Rosa
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