No alpendre
Os laçarotes brancos da chuva
deixaram de raspar
o lado de fora da janela,
a sombra macia do tempo
rega o musgo fresco da noite...
O alarido do rolar da pedra do isqueiro
acorda a harmonia do silêncio,
o cigarro luminoso sulca
os lábios tintos palpitantes
e pinta nos dedos
bigodes amarelos de nicotina...
O tango da fumaça dissolve-se
na réstia de lua perfumada
que fura o vidro da janela,
e com medo dos farrapos da solidão,
um cinturão de saudades
procura abrigo
debaixo da memória de um beijo...
As arestas do frio asfixiam
as lágrimas ternas da neblina,
o lento castiçal do firmamento
abre a joalharia das estrelas
e com elas construo o meu alpendre
suspenso nos músculos do céu....
Ana Rosa Cruz
Sem comentários:
Enviar um comentário