terça-feira, 25 de junho de 2019

Rudeza



Rudeza

(...) Vá!...
Faz-te à vida minha filha
Tens uma vida p'la frente.
E em tuas veias a maresia a pulsar
Cresce, tens muito que palmilhar,
tens que aprender a abarcar!
Saber cruzar as mãos no peito
e deixar a tempestade passar...
A morte está prometida!..
Brevemente deixarão meus seios,
de ter leite para te alimentar.
Mesmo que viver te pareça um dia,
algo fétido, áspero e enegrecido,
como cinza ardida.
Não chores!
As lágrimas têm gosto a sal
e para salgado, bem basta o mar!
Olha e com ele aprende!...
Ele sabe dar mais, do que tirar!
Nele encontrarás engenho que te sirva.
Amanhar peixe e redes consertar,
Esta será tua sina!
O que está escrito, jamais se poderá apagar,
mesmo que por muitas mulheres finas,
esta vida, seja rejeitada e cuspida!
Só tens que a honrar,
nunca dela te envergonhar!
Muitas não sabem a alegria ou o prazer,
que o pescador tem ao ver
o peixe debatendo-se nas redes
quando acabado de pescar .
Teu pai e teu irmão lá andam,
mesmo que não gostem de lá andar,
para que entre teus dentes,
pão tenhas todos os dias para mastigar!
Se algum dia eles se forem,
o mar é a única herança
                                             que eles nos hão de deixar! (...)

                                                      Ana Rosa Cruz

                                               crz@Direitos reservados

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quinta-feira, 6 de junho de 2019

Zig-zag





Zig Zag

(...) A vantagem da distância,
é aprender a conviver com a ausência
desejar desesperadamente
Tocar a proximidade!
Viver na escuridão,
Comendo o pó do chão,
tateando bolor, o caruncho
entre as ruas da humanidade!
Ambicionar a luz,
ter fome e sede de claridade!
Fazer da mentira,
verdade cega e distante!
Em terra dos sonhos,
fazer-se habitante
vagueando, como fugitivo,
fugindo da realidade em
...zig...zag!...
Dizer tudo saber e mais não ser
que mero ignorante! (...)

Ana Rosa Cruz

Crz@Direitos Reservados

Arte

Mara Light






Alquimía



Alquimia
(...) Por alquimia secreta,
a aragem das estrelas
nos fios do meu cabelo,              
mudou-lhes a cor escura
para a prata singela
de uma rosa de cetim...
Novelo de linho na corrente do tempo,
cabelo branco é ribanceira de segredos,
planalto de lírios que alvorece
a solene expressão facial...
Dançarino de cristal que roda ao vento,
o cabelo da cor das nuvens
é poeira madrepérola
do lenço de penas de uma gaivota
que escreve saudades nas areias da memória...
Bandeja de paixões,viagens únicas,
sono de uma carta da infância,
ramagens de cera na chama das palavras,
cabazes de lágrimas no acender dos olhos,
raízes de céu no perfume do pensamento...
Cabelo branco despenteado
é o balanço do sonho nos plátanos do tempo,
coroa de folhas banhada nas marés,
cartola de rosas numa ópera de lembranças,
piercings brancos pincelados por Deus...
A voz da idade no cabelo
é a linguagem da vida no vestido de uma lua,
é o cantar de um destino rente ao pôr do sol,
é o silêncio dos aromas de um lábio,
é a silhueta que adormece na humidade do olhar...
Quando o coração de um cabelo branco
os olhos para o céu levanta,
não parece homem,parece santo (…)
Ana Rosa

Crcruz61

crz@Direitos/reservados




Vibração

(Dizer nunca)

(...) Dizer nunca, 
é derrubar a fé p'la raiz.
É matar a ilusão, morrer sem ter querido sentir 
aquela vibração que a ser feliz nos ensina!
Dizer nunca, 
é viver a vida, como quem nasceu em vão!
É ter no peito um espaço vazio, sem coração
que não bate, nem  vibra!
Dizer nunca,
 é não querer questionar, 
procurar respostas para tantas perguntas
e ficar só p'la interrogação!
Dizer nunca, 
é dizer, que se não tem ... nem se quiz ter nunca!
Que se não é,
 sem questionar, se poderia ter sido coisa alguma!
É embalar aquela antiga e ainda
 aberta ferida, 
cuidá-la, até ser cicatriz 
Dizer nunca
é viver em constante recusa 
em começar de novo, como mero aprendiz!
Dizer nunca, 
é viver como arbusto solitário
 em terra infecunda
fazendo de sua norma a teimosia
fustigado p´lo vento sem dó e piedade
por mais forte que seja a tempestade
seu frágil tronco oscila inclinado
desafiando a lei da  gravidade!
Dizer nunca.
 é viver com voz estrangulada na garganta, 
com olhar de medo que espanta
 não ter vontade, nem ambição
viver entre o choro e lamentação
como defunto
questionando porque morreu 
esperando repleto de esperança 
 resposta em  sua ressurreição!
Dizer nunca,
é  evadir-se no tempo
como casa devoluta   fria de horas e minutos,
em parado relógio de pendolo
recluso no seu próprio mundo
sem levantar os olhos do chão
Dizer nunca, 
é ficar de alma vazia
é como como fraqueza em peito forte,
um surdo rastejar de sombra fria
misto de loucura e agonia,
entregue á  sua própria  sorte
Ainda em vida, nada mais não é,
que visão prévia da sua própria morte
Dizer nunca
É  ter seu destino escrito e apagado,
vezes e vezes sem fim
escrito  numa ardósia com pedaço de giz
Viver assim
 é um choro debruçado,  
pranto crispado com rosto entre mãos
choro que não apaga desencanto
soluçar de amargura que abrasa e tortura
 sob tábuas que hão-de ser do seu caixão! 
É sofrimento tal!
É sofrer loucamente, em permanente luto,
como se luto fosse culto!
Colher em doces frutos,
todas as amarguras do mundo
... é tão pouco ser é muito querer fazer!...
Viver assim,
é ter tão pouco, sabendo a muito
Ser eternamente recluso
É nunca saber como dialogar com o mundo
Duvidando de todos e tudo
Nunca baixar suas armas e escudos
É  choro... sem soluço... 
... de olhos enxutos!... (...)

Ana Rosa Cruz


crz@direitos/reservados