Vibração
(Dizer nunca)
(...) Dizer nunca,
é derrubar a fé p'la raiz.
É matar a ilusão, morrer sem ter querido sentir
aquela vibração que a ser feliz nos ensina!
Dizer nunca,
é viver a vida, como quem nasceu em vão!
É ter no peito um espaço vazio, sem coração
que não bate, nem vibra!
Dizer nunca,
é não querer questionar,
procurar respostas para tantas perguntas
e ficar só p'la interrogação!
Dizer nunca,
é dizer, que se não tem ... nem se quiz ter nunca!
Que se não é,
sem questionar, se poderia ter sido coisa alguma!
É embalar aquela antiga e ainda
aberta ferida,
cuidá-la, até ser cicatriz
Dizer nunca
é viver em constante recusa
em começar de novo, como mero aprendiz!
Dizer nunca,
é viver como arbusto solitário
em terra infecunda
fazendo de sua norma a teimosia
fustigado p´lo vento sem dó e piedade
por mais forte que seja a tempestade
seu frágil tronco oscila inclinado
desafiando a lei da gravidade!
Dizer nunca.
é viver com voz estrangulada na garganta,
com olhar de medo que espanta
não ter vontade, nem ambição
viver entre o choro e lamentação
como defunto
questionando porque morreu
esperando repleto de esperança
resposta em sua ressurreição!
Dizer nunca,
é evadir-se no tempo
como casa devoluta fria de horas e minutos,
em parado relógio de pendolo
recluso no seu próprio mundo
sem levantar os olhos do chão
Dizer nunca,
é ficar de alma vazia
é como como fraqueza em peito forte,
um surdo rastejar de sombra fria
misto de loucura e agonia,
entregue á sua própria sorte
Ainda em vida, nada mais não é,
que visão prévia da sua própria morte
Dizer nunca
É ter seu destino escrito e apagado,
vezes e vezes sem fim
escrito numa ardósia com pedaço de giz
Viver assim
é um choro debruçado,
pranto crispado com rosto entre mãos
choro que não apaga desencanto
soluçar de amargura que abrasa e tortura
sob tábuas que hão-de ser do seu caixão!
É sofrimento tal!
É sofrer loucamente, em permanente luto,
como se luto fosse culto!
Colher em doces frutos,
todas as amarguras do mundo
... é tão pouco ser é muito querer fazer!...
Viver assim,
é ter tão pouco, sabendo a muito
Ser eternamente recluso
É nunca saber como dialogar com o mundo
Duvidando de todos e tudo
Nunca baixar suas armas e escudos
É choro... sem soluço...
... de olhos enxutos!... (...)
Ana Rosa Cruz
crz@direitos/reservados
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