quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Antologia - David Marques





Antologia da autoria de
David António da Fonseca Marques
Relativo ao projeto
"A Pintura e a Poesia Lado a Lado"



Minha participação

x x x

RAIVOSA DEVOÇÃO

Por ali, o tempo parou
Cinzentas e roucas badaladas
Tom musical enferrujado
Ferrugem que corrói vidas
Sombreadas e envelhecidas
Reflexos de saudoso passado
Catatonismo e olhar vazio
Em horizontes longínquos
Num entardecer consentido
De asa partida e volta prometida
A vida foi-se para outra estada...
Sem portas entreabertas
A sete chaves, se fecharam casas
Como jazigos de última morada
Sem vivalma!
Só o silêncio ali tinha morada
Terra sem nada para dar
O futuro partiu calmamente
Mas de forma pensada
Partiu com passo apressado
Antes da cinzenta madrugada
Era grande a míngua
A fatia de pão, de cada dia
Partia-se cada vez mais fina...
Vidas em cor cinza pesada
Em balanças desafinadas
Sentiam o peso do desequilíbrio
Das vidas que por ali trilhavam
Criando um só trilho
Em tom de pobreza acinzentada
Esvaindo-se em poeira
De cor cinza parda
Com faces enrugadas,
Por lágrimas lavadas
Naquela fatídica madrugada
Muitos dos que ali ficaram
Vestiram vestes de mortalha
E não mais as tiraram
Marcados...
Por necessidades e desgostos
Almas de saudades acinzentadas
Marcadas por ferros em brasa
Esperavam ansiadas novidades
De perguntas feitas
Sem respostas dadas!
Em cada casa, rua ou arcada
Havia abandono e desgaste
Enfatizada ruína fotografada
Em cada dia mais degradada
Até o sol se esquivava
De iluminar tais paragens
Afugentado pela pesada aragem
Lugar frio, sem brilho e assombrado
Não era um lugar à parte
Era igual a tantos outros
A tantos outros iguais
Lugar onde a alegria de viver
Ficou em quarentena de ausência
Numa sistémica doença de tristeza!
Partiram...
Sem regra, no trilho da sorte
Sem única moeda na carteira
Suas vontades de tudo
Eram tudo, menos pequenas
Partidas que não voltaram mais
Sem carta ou palavras
Com alma cada vez mais acinzentada
Já nada contrastava com nada...
A alma alargava-se de saudade
A quem dos seus falta sentia
A saudade não desejava ir em frente
Ela desejava voltar
E apagar a dor no seu peito fervente...
Em trilhos vagueavam ao longe
Lágrimas de saudade do antigamente
Para nada havia horário!
A vida de quem ficou
Regia-se por um pequeno rádio
Ouviam "O Emigrante"
Velho e gasto fado
Seguiam o poema com uma lágrima
No rosto velho e enrugado.
Há muito que não ouviam
O som das horas badalar
Do sino do relógio enferrujado
Do desprezado campanário.
A noção do tempo via-se pela cor
Cinza escuro ou cinza claro
Olhar sombrio acinzentado
Olhava o trilho da vida que partiu
E já devia ter voltado!
Evadiam-se em pensamentos abstratos
Que deles se esqueceram
De ainda estarem presentes
Aldeias vazias, com sintomatologia
De uma anemia ou estigma
 
Que sangrava diariamente
Em abertas feridas.
Quando a saudade os seus reclamava
Num anoitecer demente sem gente
Sem o calor humano de antigamente
Gente pobre de cara lavada
Que em lágrimas se lavavam
De tudo havia falta
Só não faltava a saudade.
Veneravam no chão o rasto da partida
 
Como sendo algo sagrado
De uma raivosa devoção
Que de raiva e saudade se alimentavam
Numa localidade onde prevalecia
Cinza escuro...
Cinza claro...


Até Ontem
Ana Rosa Conceição Cruz



Água ...ardente









Desabrochar








Demora-te em Mim




DEMORA-TE EM MIM

Demora-te em mim meu amor
Despe-me;
Com o silêncio dos teus dedos
Beija-me com tua demora
Estes meus lábios dormentes
Demora-te em mim mais um momento;
Molda-me à tua imagem,
Como se me moldasses em areia molhada
Acaricia-me com teus dedos levemente
Como se eu fora areia quente
Entrego-te minha chave
Abre a minha intimidade
Encontrarás em mim um poema vivo
Com corpo e alma.
Rosa alva, pronta a ser desfolhada
Declama o poema que de mim tomaste
Tua serei eternamente
Em todas as infinitas alvoradas!
De ti estou sequiosa
Vem matar minha sede
Neste belo e grande momento
Degustaremos o néctar dos Deuses.
Que se misturem nossos cheiros
Acaricia com ternura;
Meus longos cabelos negros
Explora os meus segredos
Há muito que te espero
Para que todos os desvendes.
Nesse teu retido beijo
Sinto o teu ansioso desejo
Preciso do teu corpo junto ao meu
Nosso clímax será verdadeiro apogeu
Com música da lira de Orfeu
Demora-te ao amar-me
Ama-me como onda do mar
Onda que vem e vai, vem e vai
Quando saciados nossos desejos;
Demora-te em mim um pouco mais
Ainda nos resta tempo
Para nos esvairmos em beijos.
Mesmo cansados, demora-te em mim.
Deita a cabeça em meus seios molhados
Bebe neles todo o sabor salgado
Do suor de nossos corpos excitados
Rostos ruborizados repletos de felicidade
Ao amarmo-nos desta forma
Aos deuses fica provado
Que nosso amor é arte!

Até Ontem

Ana Rosa Cruz



Os 4 Elementos






OS 4 ELEMENTOS

Infernal espírito bilioso
Um dos quatro elementos
Temperamento frio e ardiloso
Ruína de muita gente
Tudo destrói à sua frente.
O homem chora amargamente!
Sem se condoer com lágrimas
Tudo devasta rapidamente.
E de arder tudo, não para!
Empurrado pela voracidade do vento,
Ingrato e hipócrita elemento
Muda de direção em dois tempos
Deixando à sua volta
Toda a raiva e revolta
Como se por ali houvesse
Uma infernal batalha.
Deixando somente ao redor
Cinzas da derrota
Naquela terra ferida,
Que muita gente alimentava
Deixando angustiada marca.
Passou a colheita de tristeza devastada
Casas em escombros,
Cama de pedras
E de cinzas a almofada.
Terra seca e enlutada
Elemento magoado
De tristeza e cor acinzentada.
Senhores de além mar...
Mandai elemento rei,
Para a natureza maléfica amansar
Para raivas apaziguar e apagar
Tal espírito de maldade
Que tanto teima em tudo queimar!
Só o elemento água pode apagar
A enorme frieza do fogo
Fartura de quente e doce água
Só ela, do fogo amargo,
Nos pode livrar!

Até Ontem

Ana Rosa Cruz



terça-feira, 23 de agosto de 2016

Certificado - Câmara Municipal Torres Vedras





David António da Fonseca Marques

(Promotor do Evento)






Serei




SEREI

Serei...
Aquele pão que ninguém te quis dar
Serei...
Uma sempre mão amiga
Quando dela precisares
Ou sempre que a quiseres ter
Embora sabendo eu,
Que a tua, nunca m'a quiseste abrir,
Talvez, quem sabe por incúria!
Terás em mim a dádiva luminosa da fartura
E nunca a negrura da míngua
Serei...
Terra vermelha, ensanguentada
Aquela terra, que de tanto ser amada
Em permanente estado virginal
E cheia de muita graça
Onde tudo cresce, quando nela plantado.
Os filhos dela paridos
Não mais padecerão de fome
Nem se ouvirá choro magoado.
Mas, alegres e joviais sorrisos.
Criarão sangue novo de esperança
Sobre o tronco da desgraça antepassada.
Os passos que por ali andarem,
Arrastando grilhos e ferindo brios
Serão a sombra dum ancestral passado
Perdoado...mas jamais esquecido
Serei...
O caminho que tu segues
Todos os dias, para a tua glória
Que teus irmãos, da miséria saberás tirar.
Levantando bandeiras de vitória
Serei...
O amanhecer de todas as noites
Para que não tenhas só pesadelos
Mas também lindos sonhos.
Serei...
A borboleta no teu jardim
A resolução dos teus sonhos
Para que queiras e possas aprender.
Que meu coração bata mais forte
Do nascer do sol, ao anoitecer
Dentro de mim... por ti

Até Ontem

Ana Rosa Cruz
e
Alfredo Carvalho




Pontos Fracos








Erros







Genes





GENES

Minha pele é única
Meu sentir também
Tenho um só coração
Alma maleável
Muitas vezes dura
E muito desagradável
Saem-me palavras da boca
Por vezes, doces como mel
Outras, amargas como fel
Sou assim...
Arrisco-me a ser eu
De forma única,
Professo minha existência
Faço de mim um ser único
Não me ignorem
Só me tenho a mim
Despida de ódios,
De mau íntimo,
Sem sentimentos de rancor,
Livre de preconceitos,
Unicamente só...
Por ser única
Em conhecimentos e ignorância
Só queria saber mais
Do que aquilo que agora sei!
O que me derem a conhecer
Tornar-me-á unicamente feliz.
Quero uma vida no meu mundo
Que somente me incentive
E não me deixe desistir
De continuar a ser eu

Até ontem

Ana Rosa da Conceição Cruz