segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Lembrança



Lembrança

(...)Só corremos o risco de ser uma lembrança 
Quando enveredamos pela via do esquecimento (...)

Ana Rosa Cruz

Arte Internet





Pássaros ausentam-se



Pássaros

Hoje sinto-me abandonada!
Os pássaros partiram 
e não mais voltaram!
Nunca pensei sentir tanto sua falta
A serra vestiu-se 
de um longo manto negro,
 como se o distinto a fizesse triste 
e desolada viúva enlutada...
Hoje tudo começa de novo,
...do nada!
Os pássaros partiram 
...antes de tempo...
Não tem as sombras frondosa 
dos troncos repletos de folhagem 
Frágeis e quebradiços 
de queimados galhos
Não ouço grilos nem cigarras
Sinto o cheiro a terra queimada
Amanhecer crepuscular de profundo pesar, 
ouvido na ausência 
do seu cantar silenciado, 
Porque as cinzas não podem falar e é,
 com actos de amor e respeito 
que se conserva a "natureza"
Penso que só se dá o verdadeiro valor 
a algo,quando se vive no vácuo 
Por isso é que o poeta inventou
 poemas de saudade
A maior demonstração poética 
de dor é pena sentida 
por toda a humanidade 

Até ontem

Ana Rosa Sãozinha Cruz



Receita



Receita

(...) É ensinando 
a quem quer aprender, 
que é preciso saber
O peixe não aparece 
no prato, como algo mágico,
Pronto a comer
ou vindo do super-mercado... 
Depois de pescado
Tem que ser limpo amanhado, 
temperado e antes 
de comido, cozinhado...
Todo o começo 
tem um princípio, 
antes de tudo, 
De uma cana, se precisa 
depois de a aprender a fazer, 
tem que a saber utilizar 
Colocar nela o "Isco",
nome dos peixes 
tem que os conhecer 
antes de os pescar, 
pois nem tudo o que vem a rede é peixe 
Finaliza-se então 
esta receita, 
indo ao forno a assar...
Mas o segredo desta 
não esta na fome, 
ou na vontade de comer, 
mas na virtude 
de um mestre, 
tem por nome, 
o pescador, 
velho e sábio 
Lobo do Mar, 
pois só ele tem a capacidade 
e Don de ensinar 
quem deseja 
aprender a pescar. (...)

Ana Rosa Cruz

Arte Ettore Del Vigo



Hora


Hora

(...) é na hora do adeus, que temos o verdadeiro discernimento de saber que jamais poderemos compartilhar com os outros as belezas do dia de o amanhã (...)

Ana Rosa Cruz






Tás...Tás!


Eu 
Tô que tô!...

(...)A pois estás!...
Comeste um bom almoço;
peru com batata assada, no forno, 
uma litrada da adega 
" do Ti Tareco Tinhoso" ,
... ficaste grosso!
Vai dando uns dedos de conversa,
 aninha-te numa cadeira, 
dorme uma soneca,
 vem por estrada direita!
Sempre em linha reta
 e sem pressas!
Pelo caminho mais longo,
sem cortar atalhos p'la floresta, 
as bruxas andam soltas 
e todo o borracho é presa certa
Pois quem come e bebe assim
Não deve de se por ao caminho
Ou entrepassa! (...)

Ana Rosa




Linhas em branco



Linhas em Branco

(...) Entre linhas da vida
Sempre existiram palavras 
nunca escritas
Espaços em branco,entre uma e outra linha, 
Como que esquecidas em constantes reticências 
Sem pontos de afirmação, interrogação, ou vírgulas
Aí existo e deslizo 
Aí escondo-me e idealizo
Exponho-me e desdigo
Entrego-me no abandono
E nas sombras desses linhas, está minha vida 
Reerguida depois de desmoronada 
Revelada depois de escondida
Encontrada depois de perdida.(...)

Ana Rosa




Mascarilha



Mascarilha

Nosso amor a nada se compara
Tem leitura bem difícil
Como diagnosticar doença rara
E que muita gente baralha!
Espaços, tempos e contratempos
Amamos ao som duma melodia
Em ritmo apressado ou lento
Idêntico ao de outras gentes
Escrita com tinta invisível
Lida no solfejo da vida
Com outros carateres de pauta
Verdadeira e bela melodia
Verdadeiros e intensos momentos
No ritmo da vida, no dia a dia
Histórias verdadeiras e antigas
Contam a realidade da vida
Mas que nada tem de hipocrisia
Somente uma negra mascarilha

Até ontem

Ana Rosa

@crz/221/ direitos autorais registados

(Arte de Kemal Kamil)





Não me digas a ningém



Não me digas a ninguém....

Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti!
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis; 
Que alagámos de beijos quando eram outras horas,
nos relógios do mundo
Leva-o depois para junto do mar;
Onde possa ser, apenas mais um poema, que eu e tu escrevemos,
Com nossos corpos delirantes...
Assim que a madrugada se encostava aos vidros 
Tinha medo de me deitar só com a tua sombra... 
Deixa, que nos meus braços pousem então as aves... 
trazendo entre as penas 
a saudade de um verão carregado de paixões
Planta à minha volta uma fiada de rosas brancas; 
Um cordão de árvores, que perfurem a noite.;
A morte deve ser clara, como o sal na bainha das ondas;
A cegueira sempre me assustou!
Ceguei de amor, 
mas não contes a ninguém que foi por t!
Quando eu morrer, deixa-me ver o mar; 
Lá do alto de um rochedo e não chores, 
Nem toques com os teus lábios a minha boca fria. 
E promete-me, que rasgas os meus versos;
Em pedaços de tiras tão pequenos, como pequenos foram sempre
os meus ódios!... 
Depois, lança-os ao mar
Parte sem olhar para trás, nem uma única vez: 
Se alguém, os vir brilhar ao longe na poeira,
Cuidará que são flores que o vento despiu!
Estrelas, que se escaparam das trevas!
Pingos de luz, lágrimas de sol, 
Penas de um anjo, que perdeu as asas por amor.

Publicado por Ana Rosa Cruz

Maria do Rosário Pedreira

Arte:Mariska Karto




Nova capa da pagina ce poemas "Universo do Pensamento


Demora-te em mim...



Demora-te em mim...

(...) Demora-te em mim meu amor
Despe-me; 
Com o silêncio dos teus dedos
Beija-me com tua demora
Estes meus lábios dormentes 
Demora-te em mim mais um momento;
Molda-me à tua imagem, 
Como se me moldasses em areia molhada 
Acaricia-me com teus dedos levemente
Como se eu fora areia quente
Entrego-te minha chave
Abre a minha intimidade
Encontrarás em mim um poema vivo
De corpo e alma imaculado
Rosa alva, pronta a ser desfolhada
Declama o poema que de mim tomaste 
Tua serei eternamente
Todas as infinitas alvoradas!
De ti estou sequiosa
Vem matar minha sede
Neste belo e grande momento 
Degustaremos o néctar dos Deuses.
Que se misturem nossos cheiros
Acaricia com ternura; 
Meus longos cabelos negros
Explora os meus segredos
Há muito que te espero
Para que todos os desvendes.
Nesse teu retido beijo 
Sinto o teu ansioso desejo
Preciso do teu corpo junto ao meu
Nosso clímax será verdadeiro apogeu
Com música da lira de Orfeu
Demora-te ao amar-me
Ama-me como onda do mar
Onda que vem e vai, vem e vai
Quando saciados nossos desejos;
Demora-te em mim um pouco mais
Ainda nos resta tempo
Para nos esvairmos em beijos.
Mesmo cansados, demora-te em mim.
Deita a cabeça em meus seios molhados
Bebe neles todo o sabor salgado
Do suor de nossos corpos excitados
Rostos ruborizados repletos de felicidade
Ao amarmo-nos desta forma
Aos deuses fica provado
Que nosso amor;
É arte! (...)

Ana Rosa Cruz

Arruda dos Vinhos - Portugal





domingo, 17 de setembro de 2017

Fenix - Especiarias





Foto da localidade--- Assenta---Ericeira----PORTUGAL



Meditação


(...) Tudo chega, mas o tempo não volta(...)

Ana Rosa


Morte



Morte

(...) Morte... como és tão forte!
Não há corpo que te resista 
Nem espada que te corte
És sedenta e mórbida
Com ludibriante retórica 
Não deixando contudo
De seres bem nobre
Tua passagem pelo mundo
Deixa-o mais pobre
Simbolizas o fracasso
E também a má sorte
Tens uma longa história.
Acendes os candelabros
De ouro, prata ou cobre
Como amuletos de vitórias.
Ao teu poderoso querer 
Ninguém lhe faz frente!
De meus braços tiras
Meu mais precioso ente
Deixando-me empobrecida
Tens precisão em tirar a vida
Precisão muito cirúrgica
Por todos os seres és respeitada
És o mistério da finalidade
Sem preferência por sexo ou idade.
Profecia sangrenta
O fim do caminho
Tudo contigo acaba
Mentira, sobranceria e vaidade
O princípio da dor da saudade.
Da carne serás
Um profético carrasco
Que com teu sublime prazer
Ergues o teu machado
És relíquia da antiguidade
Pavor da humanidade
És o símbolo do nojo e oblação
Resolves dores em aflição
És um verdadeiro credo
Sem qualquer contradição
Tua aparição não carece
De qualquer apresentação
És árida e fria
Cheia de dignidade
Impões teu carisma
Justiceira empunhando espada.
Chegas docemente
Como gélida aragem
Dominas e abres feridas
Provocas sangramentos
Que se perdem pelos tempos
E por todas as paragens
Abraço o corpo que pari
Já sem vida
Abandono-me ao teu capricho
Leva-me também contigo!...
Aconchega-me em terra lavrada
Terra solta é menos pesada
De mim só levarás metade
Nunca de mim a totalidade.
Para ti não restará nada
Serei somente um retrato
Para matar a saudade 
Que de mim fica!
A vontade de contigo lutar 
é infinda! 
Minha carne, por ti 
não será consumida... 
Oferecer-me-ei à fornalha
Unicamente restará para ti
Um punhado de cinza (...)

Até ontem

Ana Rosa Cruz



Tão Tua



Tão Tua
Só Tua

(...) Despias-me com teus dedos
Eu desfalecia em teus braços
Entregava minha boca à tua
Nossas línguas entrelaçam-se
Declamando baixinho poesia
Sem que algo fosse dito
Desvendava todos os teus segredos
Gestos de suprema loucura
Amei-te intensamente
Tornava-me em cada gesto teu
Em cada caricia, tão tua
Só tua!... (...)

Até ontem

Ana Rosa Cruz

https://www.facebook.com/universodopensamento?fref=ts



Coisas


Coisas

Todas as coisas o são
Nunca o deixarão de ser
Mesmo que mudem de lugar
Este pouco interessa
Só o uso que se lhe deseja dar
Nunca acreditei que exista um lugar 
para cada coisa e cada coisa tenha um só lugar

Ana Rosa Cruz



Vento



O vento

Sopra o vento nos lameiros, 
numa cólera furiosa
lamuriando em voz seca e grossa, 
em atitude grosseira e déspota 
Numa exaltação apressada 
de chegar primeiro antes de ser hora
Num arrufo de quem beija e morde 
Aprumando-se de bengala e cartola 
em forte ventania e traquejo
Como barbeiro de Sevilha
cortando rente, 
barba, cabelo e bigode às horas do tempo
Soprando hinos de vitória
Como enlouquecido imperador
tentando com seu brio,
imitar um tenor cantando ópera.
Está à porta uma nova estação.
Setembro acabou por se apear,
nela agora!
Consomem-se horas mortas
entre folhas encarquilhadas, 
amarelecidas e tortas
começa o fervilhar de desejo
que se vá o verão embora!
É tempo de espera,
Livro, cartilha ou ardósia 
escrita com carvão ou giz 
com muitos anos
e por muitos já lida e aprendida
na esfera da escola das horas
Não deixando de ser sempre 
...a mesma e eterna história!...

Até ontém

Ana Rosa Cruz

Arte: Kemal Kamil


sábado, 9 de setembro de 2017

Muro


Muro

(...) Naquele dia, derrubaram meu muro,
As pedras arderam dentro de mim,
queimando minha historia de vida,
Num principio do fim, algo Apocalítico
com palavras de fogo,
que deram volta ao mundo
Eu?Eu vou-me lendo na cinza ardida
antes que o vento a leve 
num rodopio à deriva...
Ficando somente em mim a lembrança de fumo, 
O gosto a queimado, a boca procurava na língua
...tantos gritos,tantas palavras,ardidas em saliva
que morreram sem ser ouvidas!(...)

Até ontem

Ana Rosa Cruz

Arte kemal Kamil



Amo-te tanto



Amo-te tanto

(...) Sinto tristeza ao acordar, 
sem que estejas ao meu lado, 
sem te conseguir ver, sabendo 
que sentir teu corpo e o tocar jamais poderá ser...
É triste nada de ti receber, 
quando tudo o que "era", 
acabei por te oferecer
Sentir o eterno frio amanhecer 
sem que ao meu lado estejas 
Para me poderes aquecer 
Quando a noite tomba, 
entre as sardas da lua que já foi luminosa e redonda
Sonho na ilusão de por ti ser abraçada e sonho... 
entre a mágua da tua sombra
Sonho acordada, lavada em lágrimas 
Pergunto a mim mesma;
que sou eu, serei, ou o que não terei, 
para te amar tanto....sem por ti ser ter sido amada...
Talvez não passe de uma tonta!
Talvez nada fui, ou tenha sido,
mas quero que saibas, para mim nunca foste
um erro do acaso, foste mais que tudo, 
foste o centro do meu mundo
pois enquanto dormias no teu sono profundo, 
a noite inteira ao meu lado, olhava-te silenciosamente 
a ti me entregava, vigiando teu respirar 
Amava-te tanto que de mim própria me desprendia
despida do tempo.
Sempre te amei sem horas quantificar!(...)

Até ontem

Ana Rosa Cruz

Arte: : kiki xue


https://www.facebook.com/groups/poesiasopoesia61/?fr