O vento
Sopra o vento nos lameiros,
numa cólera furiosa
lamuriando em voz seca e grossa,
em atitude grosseira e déspota
Numa exaltação apressada
de chegar primeiro antes de ser hora
Num arrufo de quem beija e morde
Aprumando-se de bengala e cartola
em forte ventania e traquejo
Como barbeiro de Sevilha
cortando rente,
barba, cabelo e bigode às horas do tempo
Soprando hinos de vitória
Como enlouquecido imperador
tentando com seu brio,
imitar um tenor cantando ópera.
Está à porta uma nova estação.
Setembro acabou por se apear,
nela agora!
Consomem-se horas mortas
entre folhas encarquilhadas,
amarelecidas e tortas
começa o fervilhar de desejo
que se vá o verão embora!
É tempo de espera,
Livro, cartilha ou ardósia
escrita com carvão ou giz
com muitos anos
e por muitos já lida e aprendida
na esfera da escola das horas
Não deixando de ser sempre
...a mesma e eterna história!...
Até ontém
Ana Rosa Cruz
Arte: Kemal Kamil
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