domingo, 17 de setembro de 2017

Vento



O vento

Sopra o vento nos lameiros, 
numa cólera furiosa
lamuriando em voz seca e grossa, 
em atitude grosseira e déspota 
Numa exaltação apressada 
de chegar primeiro antes de ser hora
Num arrufo de quem beija e morde 
Aprumando-se de bengala e cartola 
em forte ventania e traquejo
Como barbeiro de Sevilha
cortando rente, 
barba, cabelo e bigode às horas do tempo
Soprando hinos de vitória
Como enlouquecido imperador
tentando com seu brio,
imitar um tenor cantando ópera.
Está à porta uma nova estação.
Setembro acabou por se apear,
nela agora!
Consomem-se horas mortas
entre folhas encarquilhadas, 
amarelecidas e tortas
começa o fervilhar de desejo
que se vá o verão embora!
É tempo de espera,
Livro, cartilha ou ardósia 
escrita com carvão ou giz 
com muitos anos
e por muitos já lida e aprendida
na esfera da escola das horas
Não deixando de ser sempre 
...a mesma e eterna história!...

Até ontém

Ana Rosa Cruz

Arte: Kemal Kamil


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