domingo, 29 de maio de 2016

Vírgulas





VÍRGULAS

A ternura dos seus dedos
Acariciavam as vírgulas 
Dos meus cabelos
Cavalgavam soltas
Como nuvens ao vento
Tal como se no céu
Se desenrolassem novelos!
Era tão doce seu toque!
Linguagem nua de mão serena
Seu sorriso acalmava-me
Acendia uma luz
Na escuridão da noite
Beijava os becos
Da sua lembrança
Tinha na boca um hálito
Tingido de verde esperança
Diminuía-lhe o nome
No carinho da sua grandeza
Ensinou-me a ser grande
Quando ainda pequena

Até ontem

Ana Rosa


Sonho de Crescer




SONHO DE CRESCER

Queria reter-me nas águas revoltas
De minhas velhas lembranças
Naquela longínqua névoa esvanecida
Quando criança era ainda!
Arduamente queria ser crescida
E com um brilho no olhar
Vestia-me de espectativas
Ao som de cores vivas!
Semeava-me de esperanças
Onde tudo estava bem longe
Vivia apressadamente
Para não atrasar minha partida
Com chegada marcada
Naquela fase prometida
No desejo de o vir a ser ainda!
Todos sonhos me diziam
Que um dia eu o seria
Nem que fosse por um só dia!
Hoje, em nada me quero reter
Tudo ficou mais longe
Nada tenho para recordar
Nada fui, perdi ou ganhei
De tudo o que sonhei ser
Cresci e bem o quis ser
De tudo isso me impediram
Aquilo que ambicionei,
Não passava dum sonho
Fantasia proibida
A ficar longe fui obrigada
Nas águas paradas...
Não sou, não fui e nem sei
O que poderia ter sido
No sonho de criança
Hoje, já crescida

Até ontem

Ana Rosa



Revelação





REVELAÇÃO

Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti!
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis; 
Que alagámos de beijos quando eram outras horas,
nos relógios do mundo... 
Não havia ainda quem soubesse de nós!
Leva-o depois para junto do mar;
Onde possa ser, apenas mais um poema, 
como esses que eu e tu escrevíamos...
Com nossos corpos delirantes..
Assim que a madrugada se encostava aos vidros 
e eu; 
Tinha medo de me deitar só com a tua sombra... 
Deixa, que nos meus braços pousem então as aves... 
(que, como eu, trazem entre as penas 
a saudade de um verão carregado de paixões). 
Planta à minha volta uma fiada de rosas brancas; 
Que chamem pelas abelhas;
Um cordão de árvores, que perfurem a noite.;
A morte deve ser clara, como o sal na bainha das ondas;
A cegueira sempre me assustou!
( já ceguei de amor, 
mas não contes a ninguém que foi por ti) 
Quando eu morrer, deixa-me ver o mar; 
Lá do alto de um rochedo e não chores, 
Nem toques com os teus lábios a minha boca fria. 
E promete-me, que rasgas os meus versos;
Em pedaços tão pequenos, como pequenos foram sempre
os meus ódios!... 
Depois, lança-os da solidão de um arquipélago; 
Parte sem olhar para trás, nem uma única vez: 
Se alguém, os vir brilhar ao longe na poeira,
Cuidará que são flores que o vento despiu!
Estrelas, que se escaparam das trevas!
Pingos de luz, lágrimas de sol, 
Penas de um anjo, que perdeu as asas por amor.

Laia

Ana Rosa


sexta-feira, 20 de maio de 2016

Amar Assim






AMAR ASSIM

O dia deita-se no abraço da lua
São momentos encantadores
De enternecedora melodia
De incomensurável ternura
Sem palavras ditas...
Escuto-te,
Com meu olhar de candura
Dá-me o teu beijo
Meigo e silencioso
De palavras não ditas
Mas sentidas!

Ao amar-te tanto assim
Com meu olhar atrevido
Como infinita carícia
Momentos de silêncios plenos
Amando não por palavras
Mas por atos,
Meigos e ternurentos
Dando asas à nossa fantasia...

Para quê palavras?
Para nos amarmos tanto assim?
Palavras delas se fartam!
O silêncio, é eterna melodia
Que não se apaga nem se perde
Como água, que mata a sede
Um só beijo a secura elimina
O silêncio é em nós permanente
Sem que em qualquer momento
Alguma palavra seja precisa!

Até ontem

Ana Rosa






Dar





Perfume





O PERFUME

Solto palavras
para nadarem 
no rio dos teus olhos,
descansarem 
à cabeceira dos teus ombros
e adormecerem 
à lareira do teu colo...
E num momento de poesia,
rezo para que o frio 
se dilua no céu
e apareça um luar
com o perfume do teu carinho....

Laia

Publicado por Ana Rosa




Pérolas





PÉROLAS

Poemas são ricas pérolas
Que nas profundezas do mar
Em uma ostra se encerram
O poeta é dono de tal beleza
Possui uma chave mestra
Só ele tem o dom e o poder
De na ostra poder sair e entrar
Quando nelas, se quer inspirar!

O poema é uma declamação
De uma longa e dolorida, hibernação
De loucuras mágicas existentes no mar
De belas e brilhantes pérolas
Por um alucinado poeta, que por perolas
Tem contemplativa adoração.
Poemas, são conjuntos de pérolas
Formando por contas, se torna colar
Que abraça o colo duma mulher
Procurando suspender o tempo
Toda a beleza do mundo e por segundos 
Esféricas palavras beleza eternizar
Por cada bela dama, que tal colar de contas,
Porte tenha para as usar!

Com os belos escritos do poeta
Espírito da natureza
Que dum simples grão de areia
Faz lindos poema de pérolas
De madrugada, o poeta espera
Que a ostra se abra
Para a inspiração, dela possa tirar
Poemas que serão eternos
Inspirados numa ostra aberta
Escritos num mar de letras.
Pérolas são poesia
Escrito pelas mãos do poeta
Poemas vindos dum grão de areia
Que dá lugar a colares
De belas e eternas letras
Nada, há mais belo na natureza
Que um belo colar de esferas negras
Exaltação da natureza
Magia nas profundezas do mar
são perolas poeta...são perolas...

Até Ontem

Ana Rosa





Quase Nada





QUASE NADA

O que me deixaste foi quase nada, 
Levaste tudo, foste muito egoísta,
Até os meus beijos levaste contigo.
Deixaste os meus lábios amargos,
Por não mais beijar, ser meu castigo. 
Aprendi contigo a viver e a amar,
Era uma inocente, não sabia crer,
Na tua fina e excepcional beleza,
Que tu emanas como diamante,
Reluzindo teus olhos multicores.
Levaste contigo o meu coração,
Com a minha alma apenas fiquei,
Desiludida por me teres deixado,
Deste modo triste e abandonada.
No mar de lágrimas que derramei.
Não guardei mesmo quase nada,
Tu levaste tudo, até o meu amor,
Fiquei mais pobre, minha tristeza,
Guardando a memória da beleza 
Como única dádiva do teu sabor.

Milaia Sequeira

Publicado por Ana Rosa



quarta-feira, 11 de maio de 2016

Paixão





PAIXÃO

Por não vos merecer,
Convosco, deixai-me parecer
De vós me considero indigno
Perante o saber vosso, senhora,
Inclino-me e vénias far-vos-ei
Como temente e carente mendigo!

Abençoada mestra do universo
Da adivinhação e sabedoria
Do movimento astral
Dos céus e do inferno
Do bem e do mal
Rainha do zodíaco
Afrodisíaco dos impotentes
Fármaco dos fracos e oprimidos
De espada em punho
Impõe seu cunho... à morte
Deixando-a em cada batalha,
Mais fraca que forte!

Por vós, darei minha pobre vida
Deixai senhora minha
Que em vossa vida, seja bem vindo
Recebei este vosso mísero vassalo
Que porá em vossas mãos o seu destino!

Do vosso sorriso, sempre peregrino
Porei num altar vossa bela imagem
Louvar-vos-ei cantando hinos
Em rituais de vassalagem
Vosso servo serei e só a vós servirei!
Serei sombra da vossa imagem
Dela me sentirei refém
Senhora do aquém e do além

Condenai-me...
Fazei sentir-me infeliz
Por aquilo que por vós não fiz
E p'lo que erradamente fiz!
Com vossas sentenças
Expressai vossas próprias leis
Com severas emendas...
Fazei com meus atos
Verdadeira jurisprudência
Com máscara colérica de juiz!
Condenai-me ao eterno cárcere
Prendei-me, p´lo que nada fiz!

Com vosso olhar azul turquesa,
Mantenhai-me indefeso, senhora
Numa cela acorrentado
Com apertadas algemas!
Apertai-as de tal modo
Que por vós, de dor padeça!
Prestar-vos-ei eterna vassalagem
Fazei de mim vossa submissa presa
Alguém com valor secundário
Que por vós, tem um amor inigualável
Um subalterno da vossa sabedoria
...e imagem!

Até ontem

Ana Rosa



Colar de Poemas








Chamas




CHAMAS

Recordo;
Com tristeza no olhar e saudade infinita 
A porta da entrada que dava para a rua
Assomava a história da nossa vida,
Olho-a agora, com expressão entristecida
Dela, somente resta o meu sentir nesta escrita
Onde tantas vezes chama de amor,
Em mim, teu olhar ternuras acendia
Chamas de amor, com que me deixavas, 
Despida ou quase nua;
Côncava ternura, entardecidos teus dedos
Ao longo da minha cintura, 
apertavas-me junto a ti
Tocavas-me no topo da loucura;
Meu corpo dissimulado pelo vestido,
Abria os botões, um a um e misturavamo-nos
Em dois ardentes corpos nus...
Amava-te tanto; 
Jamais esquecerei, tuas meigas caricias,
Eras o sol de minha vida; 
Tudo em ti era diferente, insubstituível
Aquele sabor doce que transportavas
Tua língua, enlouquecia-me
Transformava os cansaços em gemeres de alegria
O nosso cheiro, tinha musica, 
Claves de alegria sustenida...
Em mim, não passarão ao esquecimento, nunca
Nosso amor era tão secreto no aconchego,
Como silencio, que toca levemente
os seios de madrugada... 
Nunca, por mais anos que viva, 
assim, serei tão amada!..

Já nada sinto por ninguém por mais que viva,
Será numa tristeza infinda 
Somente me deixaste tuas lembranças
De ser amada como desejava e queria, 
Com euforia fui beijada e muito amada; 
Duvido até, que haja alguém como eu,
o tenha sido na vida!
Beijava-te e mais um beijo eu te pedia
Nossos lábios ficavam doridos;
Nossas bocas devoravam o mundo
Não havia entre nós lacunas,
nosso amor tudo preenchia...
Morava tudo nele e mais nada lá cabia
Nada era resumido, ao essencial ou insípido
Até que um dia, o sabor do teu beijo,
teve gosto de despedida...
O mundo caiu, com um absurdo estrondo
Perdi o amor de minha vida;
Deixei de ser aquela mulher, de que alguém
espera vinda...
Em minha boca trago o fel, amargo e recolhido,
Carrego comigo desfastio e enlutado sorriso
Como sombrio jazigo...
A porta da entrada esta trancada!
Pois, dela já não se faz serventia!
Em minha vida, há e sempre haverá, alguém,
...alguém insubstituível...

Até ontem

Ana Rosa



Perda







Asas do Vento







As Ondas do Teu Cabelo





AS ONDAS DO TEU CABELO...

Suspiros incandescentes
duma lâmpada enforcada no teto,
abrem clareiras de luz no escuro,
duma sala recheada de silêncio

As sombras beijam levemente
o cair das folhas da noite,
que desfilam na passerelle do soalho,
com tinta que a lua inventa

Pepitas esbranquiçadas do luar
atravessam os ombros das janelas,
aplainando o fel da solidão,
às cavalitas da lareira das palavras

Cavalos de frio saltitam no tempo
serpenteando nas algibeiras dos chinelos,
vagueando a tróte num incognito,
precipitando-se no abismo inexistente

A esquina acesa do cigarro
nas bancadas da penumbra,
busca arquivos de segredos, 
nas serenatas da alma,
borralhos de lembranças tuas, 
no guichet da saudade,
fazendo tremores frios na alma, 
como fantasma, que volta do passado

O sossego da voz na flanela do abraço
o cordão de baton no elástico do sorriso,
o aroma pó de arroz no lume do rosto,
o rosa das unhas nas campainhas da pele,
os beijos sentados nas cedilhas do peito,
o feitiço das meias nos pés de salto alto,
o desenho dos sonhos no incêndio da paixão

O voar da poesia nas esferas do olhar
todo o teu universo feminino que eu senti,
No afastar das ondas do teu cabelo,
nada de ti, te poderei pedir, nada mais,
algum dia, de ti poderei esperar

Até ontem

Milaia Sequeira

Publicado por Ana Rosa





terça-feira, 3 de maio de 2016













Nau Catrineta





NAU CATRINETA

Presenças pasmas 
Lendária viagem, impensada 
Para alcançar, uma e qualquer margem
Numa caravela obsoleta, 
Cujo nome tem por ser, Nau Catrineta 
Mastro quebrado 
Velas esfarrapadas pelo vento 
Navega nas ondas do sofrimento 
Presença sem contrapeso 
Navio fantasma do capeta 
Transporta agonias, medos e tristezas 
Balanças desequilibradas,
Agonizante desterro, 
Sem que se saiba bem seu termo 
Sempre os mesmos passageiros 
Mas todos lá cabem dentro! 
Agarrados a classificados do desespero 
Que a todos despromove e deprecia 
Empregados domesticados 
Licenciados com mestrado e doutoramento
Assim se ganha hoje, "aqui", 
O pão de cada dia... 
O espelho da casa dos segredos, 
Quebra-se ao ver partir, quem nele se mira 
Já não tem "cunho"
Não plagia a alegria,
Mas somente incerteza e disputas 
Tentam passar o Cabo da Boa Esperança 
Num silêncio barulhento da revolta, 
Por recusa de tal herança... 
Que não mata, mas tortura as entranhas 
As lâminas da latitude e longitude
Desafiam as leis do pensamento 
Imperiosas em desmembramentos 
Espalham-se pelo mundo, 
Cabeça, tronco e membros 
Como inquietantes fragmentos... 
Corajosamente, questionam pouso 
Desbravando futuros, afoitamente
Sem astrolábio, bússola ou rosa dos ventos 
Verdadeiras memórias futuras... 
Arquivadas no arquivo do esquecimento
Como um simples documento
No imponente monumento, da Torre do Tombo... 
Muitos, aí procuram ainda, 
" o Ovo de Colombo"... 
Nas turvas águas banho 
As minhas entranhas do esquecimento 
Para nunca esquecer, 
Mas lembrar sempre, tempos como estes!
A doença da moda não é o esquecimento 
Mas sim a lembrança constante 
Do triste momento onde nos diziam, 
Há bem pouco tempo;
"Não viaje para fora, viaje cá dentro"

Até ontem

Ana Rosa





Liberdade





LIBERDADE

O conceito de liberdade
É ter o dom da palavra
Poder dizer livremente
O que nos vai no coração
Ou dizer "ai", quando algo nos dói!
Demonstrar alegria e tristeza
Num país onde não há trabalho
E não havendo na mesa pão
Todos ralham e ninguém tem razão

Até Ontem

Ana Rosa