REVELAÇÃO
Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti!
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis;
Que alagámos de beijos quando eram outras horas,
nos relógios do mundo...
Não havia ainda quem soubesse de nós!
Leva-o depois para junto do mar;
Onde possa ser, apenas mais um poema,
como esses que eu e tu escrevíamos...
Com nossos corpos delirantes..
Assim que a madrugada se encostava aos vidros
e eu;
Tinha medo de me deitar só com a tua sombra...
Deixa, que nos meus braços pousem então as aves...
(que, como eu, trazem entre as penas
a saudade de um verão carregado de paixões).
Planta à minha volta uma fiada de rosas brancas;
Que chamem pelas abelhas;
Um cordão de árvores, que perfurem a noite.;
A morte deve ser clara, como o sal na bainha das ondas;
A cegueira sempre me assustou!
( já ceguei de amor,
mas não contes a ninguém que foi por ti)
Quando eu morrer, deixa-me ver o mar;
Lá do alto de um rochedo e não chores,
Nem toques com os teus lábios a minha boca fria.
E promete-me, que rasgas os meus versos;
Em pedaços tão pequenos, como pequenos foram sempre
os meus ódios!...
Depois, lança-os da solidão de um arquipélago;
Parte sem olhar para trás, nem uma única vez:
Se alguém, os vir brilhar ao longe na poeira,
Cuidará que são flores que o vento despiu!
Estrelas, que se escaparam das trevas!
Pingos de luz, lágrimas de sol,
Penas de um anjo, que perdeu as asas por amor.
Laia
Ana Rosa
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