domingo, 29 de maio de 2016

Revelação





REVELAÇÃO

Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti!
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis; 
Que alagámos de beijos quando eram outras horas,
nos relógios do mundo... 
Não havia ainda quem soubesse de nós!
Leva-o depois para junto do mar;
Onde possa ser, apenas mais um poema, 
como esses que eu e tu escrevíamos...
Com nossos corpos delirantes..
Assim que a madrugada se encostava aos vidros 
e eu; 
Tinha medo de me deitar só com a tua sombra... 
Deixa, que nos meus braços pousem então as aves... 
(que, como eu, trazem entre as penas 
a saudade de um verão carregado de paixões). 
Planta à minha volta uma fiada de rosas brancas; 
Que chamem pelas abelhas;
Um cordão de árvores, que perfurem a noite.;
A morte deve ser clara, como o sal na bainha das ondas;
A cegueira sempre me assustou!
( já ceguei de amor, 
mas não contes a ninguém que foi por ti) 
Quando eu morrer, deixa-me ver o mar; 
Lá do alto de um rochedo e não chores, 
Nem toques com os teus lábios a minha boca fria. 
E promete-me, que rasgas os meus versos;
Em pedaços tão pequenos, como pequenos foram sempre
os meus ódios!... 
Depois, lança-os da solidão de um arquipélago; 
Parte sem olhar para trás, nem uma única vez: 
Se alguém, os vir brilhar ao longe na poeira,
Cuidará que são flores que o vento despiu!
Estrelas, que se escaparam das trevas!
Pingos de luz, lágrimas de sol, 
Penas de um anjo, que perdeu as asas por amor.

Laia

Ana Rosa


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