terça-feira, 3 de maio de 2016

Nau Catrineta





NAU CATRINETA

Presenças pasmas 
Lendária viagem, impensada 
Para alcançar, uma e qualquer margem
Numa caravela obsoleta, 
Cujo nome tem por ser, Nau Catrineta 
Mastro quebrado 
Velas esfarrapadas pelo vento 
Navega nas ondas do sofrimento 
Presença sem contrapeso 
Navio fantasma do capeta 
Transporta agonias, medos e tristezas 
Balanças desequilibradas,
Agonizante desterro, 
Sem que se saiba bem seu termo 
Sempre os mesmos passageiros 
Mas todos lá cabem dentro! 
Agarrados a classificados do desespero 
Que a todos despromove e deprecia 
Empregados domesticados 
Licenciados com mestrado e doutoramento
Assim se ganha hoje, "aqui", 
O pão de cada dia... 
O espelho da casa dos segredos, 
Quebra-se ao ver partir, quem nele se mira 
Já não tem "cunho"
Não plagia a alegria,
Mas somente incerteza e disputas 
Tentam passar o Cabo da Boa Esperança 
Num silêncio barulhento da revolta, 
Por recusa de tal herança... 
Que não mata, mas tortura as entranhas 
As lâminas da latitude e longitude
Desafiam as leis do pensamento 
Imperiosas em desmembramentos 
Espalham-se pelo mundo, 
Cabeça, tronco e membros 
Como inquietantes fragmentos... 
Corajosamente, questionam pouso 
Desbravando futuros, afoitamente
Sem astrolábio, bússola ou rosa dos ventos 
Verdadeiras memórias futuras... 
Arquivadas no arquivo do esquecimento
Como um simples documento
No imponente monumento, da Torre do Tombo... 
Muitos, aí procuram ainda, 
" o Ovo de Colombo"... 
Nas turvas águas banho 
As minhas entranhas do esquecimento 
Para nunca esquecer, 
Mas lembrar sempre, tempos como estes!
A doença da moda não é o esquecimento 
Mas sim a lembrança constante 
Do triste momento onde nos diziam, 
Há bem pouco tempo;
"Não viaje para fora, viaje cá dentro"

Até ontem

Ana Rosa





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