domingo, 30 de agosto de 2015

Quinze Anos




QUINZE ANOS

Nada é como dantes
Como nos seus quinze anos.
Depois de os fazer
Nunca os voltará a ter!

Corria para todo o lado
Não fazia planos
Subia e descia a serra
Com expressão de criança
Que só a ingenuidade alcança

Corria por montes e vales
Nua, banhava-se nos riachos
Sonhava com pirilampos
E com belos príncipes
Transformados em sapos

Para si, tudo era perfeito
Estivesse torto ou direito
O vento dançava
A roda da azenha não parava
Lá longe nos penhascos
O vento murmurava com lamento
Em prados verdejantes
Caía o silêncio do luar perfeito
O lindo luar espalhava a luz
Por todo o lado e casa dentro

Cada espaço com seu encanto
De quando se tem quinze anos
Saltava pedras molhadas e frias 
Para si sorriam e diziam:
---Bom dia bela menina!
---Não parta a bilha 
que na sua cabeça equilibra!...
Sabia de cor onde estavam
Para ela naquela serra
Nenhum segredo havia

A noite abraçava-a com um sorriso
Ela lançava-lhe um terno suspiro
Em pleno luar, olhava as estrelas
Com seu esplendoroso brilho
Sua simplicidade, era perfeita
Estava a surgir a mulher mais bela
Naquela longínqua aldeia

Vestida de chita e sem peneiras
A natureza foi para ela benfazeja
Essa bênção dela recebeu
Põe uma flor na trança
Do seu lindo e louro cabelo
Podem todos admirar a beleza
De quem se veste 
Somente dela mesma             

Até Ontem

Ana  Rosa









terça-feira, 25 de agosto de 2015

Extravio





EXTRAVIO

 Aldeia...
 Devastada pela solidão
 Casas desabitadas
 Vazio instalado
 Ausências sem presenças
 Em casa não, casa sim
 Casa sim, casa não.
 Quem ainda resiste
 Entrega-se na recordação
 Sem muita aventura.

 Quem pisava essas pedras
 Mudou de endereço.
 Cartas vêm devolvidas
 Por endereço incorreto.
 Resta o embalar do barulhar
 Das águas da fonte
 Que matam a sede
 De quem fica.

 Quem resiste em ficar
 Confusos e sem saber onde
 Esperam pacientemente
 Com a impaciência medicada
 Que lá ao fundo
 No árido horizonte
 Apareça alguma notícia
 Há muito esperada.
 Talvez de quem já se foi ...

 Alma penada... 
 Que só agora pôde voltar! 
 Do fim que não tem pressa 
 Que o devagar...devagarinho
 Aconteça.
 Que dobrem os sinos.
 A sua ausência,
 Dita a não esperada hora
 Seu badalar faz estremecer
 Na sua constância!

 A bandeira das almas
 Circula de bengala
 Acompanhada pelos resistentes
 Até à sua última morada
 Com estada numerada
 E código postal...

 Até ontem

 Ana Rosa





domingo, 23 de agosto de 2015

Segredo





SEGREDO

 A rosa foi murchando
 Perdeu seu perfume
 Mas nunca o seu encanto
 Palavras escritas um dia
 Sobre o nosso amor
 Debotadas, foram ficando
 Anos e anos...guardadas
 Mas nunca esquecidas
 Irreconhecível caligrafia
 Manchada por lágrimas vertidas
 Escrita debotada
 Seca flor, ilegível caligrafia
 Despojos dum grande amor
 Tudo o que resta de nós hoje em dia
 Outrora, foi eterna magia...
 É agora um magoado grito
 De angustiante saudade e melancolia
 Do que fomos um dia!
 Assim te lembro e me castigo
 Merecias que te amasse mais
 Do que me pedias...
 Merecias que te amasse mais
 Do que eu podia!

 Até ontem

 Ana Rosa





sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Teu Feitiço





TEU FEITIÇO

 O que vi em ti?
 Para te amar tanto assim.
 Nossas horas são pequenas
 Suaves e ternas
 Voam no vento como penas!
 O que vi na tua cor de pele?
 Cor tão quente
 Tez bela e morena.
 Teu olhar enfeitiçou-me
 Pela forma de me amar.
 Qual o teu feitiço?
 Teu sorriso tem magia
 Branco, franco e tranquilo
 Que com seu inigualável brilho
 Aos poucos me conquistou.
 Posso dizer-te que és minha?
 És minha e o mais belo
 E muito querido
 Presente do céu

 Até ontem

 Ana Rosa




Flor Amada





Dúvida





DÚVIDA

 Por vezes acho estranho
 que os que se dizem ser meus amigos
 nunca estejam perto de mim
 nos meus momentos de felicidade.
 Simplesmente, afastam-se!
 Será que não suportam ver-me feliz?
 No entanto, estão sempre presentes
 nas piores alturas!
 Porque será?
 Será que gostam assistir de camarote
 à minha infelicidade?
 Não preciso de amigos
 que agem por obrigação!
 Há uma sintomatologia contrária
 no conceito de amizade!

 Até ontem

 Ana Rosa




Travestido





TRAVESTIDO

 Sou e não sou
 Enterro-me no horizonte
 Vincam-se marcas no meu rosto
 Dum ofício travestido
 Do que sou hoje... 
 Mas poderia não ter sido!

 Os dias são uma constante
 Sempre iguais
 Entre poluições de sovaco
 Com mistura de odor barato
 Devidamente doseado!
 Dias repetitivos
 Um dia atrás do outro
 Sem novidades
 Num concerto
 Sem qualquer desafino

 Em cada dia que passa
 O acumular dos resíduos
 Que me corroe por dentro
 Será o meu túmulo.
 Acumular-se-á pó e mais pó
 O suficiente para me sepultar

 Cemitério fabril
 Ao serviço do capital
 Sou o estímulo condicionado 
 Do final de cada mês
 Sou o travesti da repetição 
 No horário do apito
 Sou animal amestrado
 Mas não sou

 Enterro meu rosto
 No horizonte do travesseiro
 E também vivo e sou 
 Um invertido na realidade
 Numa vida fatídica
 Do faz de conta

 Até ontem

 Ana Rosa




Lembrança





LEMBRANÇA

 Deito-me.
 No meu pensamento 
 Tua lembrança acaricio. 
 A pena de te não ter... 
 Somente existe em meu suspiro 

 Um sopro te levou
 Como vento de inverno.
 Já não te tendo
 O ter-te em mim é eterno
 De ti me lembro
 Com teu beijo quente
 Beijando-me docemente
 Como leve afago terno
 Que me aquece do frio
 E me deixa quente.
 Ao sentir-te minha alma ferve

 Vejo-te sem te ver 
 Sinto-te em pensamento
 Sinto teu inesquecível odor
 Ouço tuas gargalhadas,
 Teus lamentos.
 Amas o meu corpo
 Apoderas-te dele
 Cedo-to e amamo-nos
 Sem que estejas presente 

 Ao amares-me assim
 Tão longe de mim
 Mas tão perto também
 Nada em nós se perdeu
 Mantem-se eterno
 Mesmo que não estejas
 Mas fazes parte de mim. 
 A tua ausência 
 Nunca deixou de ser presença.

 Até ontem

 Ana Rosa





Viandante





VIANDANTE

 Pergunta...
 Se alguém se lembra de mim
 Se sabem quem sou!
 Tal como tu 
 Nunca me viram passar
 Pergunta...
 Se passei por algum lugar
 Sem ser visto
 Tal como tu
 Demasiado insensível
 Para que por ti seja visto
 Não distingues a verdade da mentira
 Mentira escondida em suposta verdade
 Questiona teu reflexo
 Encontrar-me-ás
 Quando por ti passar!
 Passarei suavemente como o tempo
 Deixarei marcas que refletes
 No teu corpo e alma
 Num espelho

 Até ontem

 Ana Rosa




domingo, 2 de agosto de 2015

Vida






VIDA

A existência em nós
Tem espírito próprio
Inigualável e sublime
Não se põe em causa
É algo que todos têm
Sem poder ter posse
Não é de ninguém
É pertença de todos

Anda ao nosso lado
É inultrapassável
Inconstante na estabilidade
Frágil na sua grandeza
Sensível na arrogância
Tudo isto tem um nome...
...Vida

Até ontem

Ana Rosa


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Viver






Mentes Confusas