TRAVESTIDO
Sou e não sou
Enterro-me no horizonte
Vincam-se marcas no meu rosto
Dum ofício travestido
Do que sou hoje...
Mas poderia não ter sido!
Os dias são uma constante
Sempre iguais
Entre poluições de sovaco
Com mistura de odor barato
Devidamente doseado!
Dias repetitivos
Um dia atrás do outro
Sem novidades
Num concerto
Sem qualquer desafino
Em cada dia que passa
O acumular dos resíduos
Que me corroe por dentro
Será o meu túmulo.
Acumular-se-á pó e mais pó
O suficiente para me sepultar
Cemitério fabril
Ao serviço do capital
Sou o estímulo condicionado
Do final de cada mês
Sou o travesti da repetição
No horário do apito
Sou animal amestrado
Mas não sou
Enterro meu rosto
No horizonte do travesseiro
E também vivo e sou
Um invertido na realidade
Numa vida fatídica
Do faz de conta
Até ontem
Ana Rosa
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