sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Travestido





TRAVESTIDO

 Sou e não sou
 Enterro-me no horizonte
 Vincam-se marcas no meu rosto
 Dum ofício travestido
 Do que sou hoje... 
 Mas poderia não ter sido!

 Os dias são uma constante
 Sempre iguais
 Entre poluições de sovaco
 Com mistura de odor barato
 Devidamente doseado!
 Dias repetitivos
 Um dia atrás do outro
 Sem novidades
 Num concerto
 Sem qualquer desafino

 Em cada dia que passa
 O acumular dos resíduos
 Que me corroe por dentro
 Será o meu túmulo.
 Acumular-se-á pó e mais pó
 O suficiente para me sepultar

 Cemitério fabril
 Ao serviço do capital
 Sou o estímulo condicionado 
 Do final de cada mês
 Sou o travesti da repetição 
 No horário do apito
 Sou animal amestrado
 Mas não sou

 Enterro meu rosto
 No horizonte do travesseiro
 E também vivo e sou 
 Um invertido na realidade
 Numa vida fatídica
 Do faz de conta

 Até ontem

 Ana Rosa




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