sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mudança




MUDANÇA

Tentam transformar-nos
em seres genéricos...
Com rostos deformados de igualdade!
Nossa singularidade desvanece-se
Já não nos encontramos
Nos mesmos lugares
Questionando nossa razão
De ser diferente...
Preciso duma nova visão
Menos pessimista e oblíqua
Preciso de um motivo
Que me desafie...
Desejo um espelho
Em que a visão de mim
Não seja estática, mas dinâmica
Não me sinto isolado no meu eu...
Só quero ouvir o eco de mim...
Que me ponha numa paisagem diferente
Se não gostar da visão!
Outros com as mesmas dúvidas que eu
Seremos a nova geração
Que ultrapassará os limites estáticos
A luz que se apaga
O divino se ultrapassa
Nada será igual a nada!
Tratados, serão tratados como tratados
Que se resignarão à sua insignificância

Até ontem

Ana Rosa




segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Dependência






Crisália





CRISÁLIA

Chegou a hora
De surgir a beleza
Após se tecer sobre si
O casulo rompeu
Prisioneira deixou de ser
No casulo que tecera
Sua beleza admirou
Ao evadir-se da prisão

Não mais foi prisioneira
E pela primeira vez
Soube ser borboleta
Abriu as asas e voou
Voou de flor em flor
Como se de seda fora
Teve receio...
Da condenação de posse
De possuir tão belas cores

Alisou as asas e aventurou-se
Abriu as asas ao mundo e voou
Nos mais profundos mistérios
Leve como pluma voa
Na sua pequena grande aventura
Voa num incerto futuro
Voa em incertezas
Em qualquer direção
Incerta e ainda tremelicante
Bamboleia-se...
Neste pequeno e grande mistério
De transformação exuberante
Nasceu para a liberdade de voar
Adoraçao dignificante
Pousando em meu dedo anelar
Este exuberante diamante

Até ontem

Ana Rosa



Melancolia






Erva daninha





ERVA DANINHA

Já não há chama evocativa!
Pobreza!
Já ninguém dela se livra
A palavra já nada honra
Do que antes nos dizia
Há só troca de sons e sílabas
Atulhados em dívidas

Foram-se os presentes de natal
Alegria de nossas vidas
Lembrado como vaga fantasia
Resta só o silêncio dos inocentes
Com unhas cortadas rente

Com palavras em rodapé
Somente lemos lamentos
Com sons de maus odores
Nosso entendimento é pequeno
As armas já não combatem
Como o faziam antigamente
Trocam-se as noites pelos dias
Abrem-se alas a um crepúsculo
De inércia e que nos paralisa
Asfixiados por escuridões
Com falta de energias
Só a escuridão faz companhia

Uma vela, ilumina uma santa
Num escaparate enegrecido
Um passado em que se acreditava
Que mais noite não haveria
Como se fosse uma profecia!

De pensamentos em fuga
Massa cinzenta que se ausenta
País em que o pão não cresce
Falta-lhe fermento
Há fome
Somente quem a sente entende
Ronca em nossas barrigas
Fome de tudo e nenhuma fartura
Gordura deixou de ser formosura.

Sem uma expressão de alegria
Faz-se contas à vida
E muitos se questionam
Se ainda teremos amanhã
O pão nosso de cada dia

Exalta-se a pobreza
Ela própria tem vida
Exalta-se a arte do poeta
Pensares poéticos
Em prosa ou poesia
Pensares de melancolia
Com expressão pouco garantida
De poesia não se enche a barriga
Porque sò palavra é vianda fria
Ter filhos!
Vago pensamento no horizonte

Saem em ruas de amargura
Com grafonolas e bandeirinhas
Enganando quem já não vive
De João Ratão, Carochinha
E Alice no país das maravilhas!

Abriu-se a coutada...
Caçadores de odre cheio
Caçam quem de barriga vazia
Sem letras de rodapé
E sem nos dar a entender
Nossa ignorância política
Toda a verdade dita
Não passa de mentira
Semente daninha enraizada
Que por mais que se corte
Sempre germina!

Até ontem

Ana Rosa - 04.10.2015




Saudade







Embrião





EMBRIÃO

É vaga de ar fresco
Duma vida ainda indecisa
Nos ímpetos contida
Sem entender ainda 
O que significa a vida

Vaga ainda questionada 
Embrionária...
Partícula ainda incompleta
O princípio de tudo
E ao mesmo tempo 
O princípio e o fim de nada

É a fúria do querer acontecer
Fazer parte da vida
Parte de todo o sentir
No princípio, meio e fim
Do nascer e morrer

É um invasor 
Que se afogou nos oceanos 
Gotas de fluidos trémulos
Por implantar
Que se deixou em silêncio
Representando a dor
Do que se deixou de escrever
Por falta de tempo
E por contratempos

É partícula do impasse
Atrasa a hora de nascer
Na imensidão do mundo da graça
Não tem espaço 
Neste local infértil
Útero seco e inútil
Presente mas escuro
Escuro como breu
Sem esperança de dar à luz
Nem oportunidade de ouvir
Uma canção de ninar
Nem escutar histórias
"De palavras que nunca te dirão"

Até ontem

Ana Rosa





Maturidade






Odor Hipnótico





ODOR HIPNÓTICO

Rosa brava
Em leito de água parada
Descansa a beleza iluminada
Na sua fragância banhada 
Entregou-se em delírios de amor
Amou e muito foi amada
Ao amar perdeu o coração
Alterou toda a cor
Da mortalidade da sua alma
Tonalidade pálida e desmaiada
Tomando-se cor-de-rosa clara
Criando o inconfundível odor
Odor esse a rosa brava 

Tom de rosa claro
Botão de rosa em flor
Com seu esplendor de graça
Num bailado melancólico
À dança do amor se entregou
E da roseira se ausentou
Ao nascer a madrugada
Sua pernada da roseira
Alguém a cortou
E não mais às outras rosas se juntou

Tudo perfumava em sua volta
Com seu imaculado odor
Em torno de si tudo girava
Como se essa frágil flor 
Estivesse num trono plantada!
Ao evadir-se da roseira brava
O odor da rosa, à roseira faltou

Beleza formosa cor de rosa...
Com odor hipnótico
Verdadeira essência histórica...
Feitiço de amor melancólico
Sem reclamações de dor..
Em pétalas chorosas
Não desistiu de carícias amorosas
Satisfazendo luxúrias hipnóticas 
Com seu esplendoroso odor!
Seu nome é rosa...
Rosa, é também a sua cor!

Perfume de paixão... 
De rosa brava em botão
Claridade luxúria e sedução
De madrugada surge como clarão
Mistério da germinação
Desperta em botão!
Bela flor, será imagem... 
Sempre relembrada
Como essência de amor de perdição!

Até Ontem

Ana Rosa




Fazes-me falta