quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Falua



Falua

(...) Quando é que o homem
começa a entender,
Que o tempo, nada tem
para nos dar?
Tudo ele nos tira!
Sem poder reclamar!
Nunca o desejem aprisionar!
Ele é punho, murro,
vento em fúria!
Viaja em frente .... Sem nunca recuar!...
Viajar no tempo, é uma aventura!...
Como despertar
em linda madrugada,
que logo se esvai,
Num atormentado dia de chuva!
O tempo é e sempre será,
sol de pouca dura!
... O tempo é uma Falua!
Barca que entre margens,
sob águas flutua!
Trazendo e levando mensagens
Às vezes difíceis de entender!
... Quem o não souber escutar
e aceitar, se transformará
em maçã por colher,
que logo no chão cairá,
de tão madura!
O tempo leva e traz,
é movimento,
é lembrança do esquecimento!
Tarde ou cedo marcará
todo nosso corpo
com irrecusável
e elevada fatura!...(...)

Ana Rosa 
🌹
 Cruz
Arte: Ettore Aldo Del Vigo 




 

ADN



ADN

(...) Sou um ADN isolado, estranha forma de vida ...
Sem um unico parente vivo,
que genéticamente comprove,
que minha existência ainda respira!...
Um indigente, um anti-corpo resistente,
mutilado p'la vida!
Talvez um assintomático, um sobrevivente,
que mais me dava, que exigia!
Dizem entendidos em miséria,
ser secundário efeito,
a um e qualquer um medicamento,
aplicado em apertadas medidas de profilaxia!
Ou desconhecida vacina
que alguém administrou,
aprisionando mais que nunca,
suspiros mortais, dentro da própria vida!
Era uma alegoria gerada no desfastio,
raiz do medo abnegada, entre a sede, fome e frio,
Mirrada sem vida,
que a terra não abraçou, de tão ressequida ...
Sempre acreditei, em todas as verdades
que me vendiam!
... Eram caras!... Adquiria só as que podia!
Embora cedo entendesse,
que pouca diferença havia,
entre o profilático e a proliláxia!...
E ao questionar-me também,
sob as sementes do paradoxo,
Deduzi que tais,
nunca germinaram, nem germinariam!...
As verdades, sempre aleijaram a carnadura!
As julgo anémicas! ...De baixos niveis de hemoglobina!
Por tal razão;
... optei por fechar os olhos ...
... para aprender o viver na mentira!... (...)

Ana Rosa 

Cruz


Arte Thomas Dood 


 

terça-feira, 6 de outubro de 2020


Pirilampos


(...) “A noitinha aparecem nuvens

de vaga-lumes ...

Pedindo namoro às noites 

quentes na serra ...

Num pisca-pisca de luzes!

Ninguém sabe d’onde surgem ...

Escondem-se,

entre estevas e giestas ...

Veem cheirar seus perfumes ...

Aparecem e desaparecem ...

... existência de pequenos pontinhos de luzes ...

Veem ouvir o sorriso do rio,

Fazendo cócegas 

aos pequenos seixos e pedras ...

Expondo esconderijos,

de pequenos peixes em cardumes...

E às estrelas;

Fazer ciumes!...

Seu brilho no céu,

é deslumbre!

Mas a abeira rio,

os Vaga-lumes,

... brilham mais do que elas!...”(...)


Ana Rosa 🌹Cruz



 

domingo, 10 de maio de 2020

Porque hoje é Domingo






Porque hoje é domingo



(...) No largo p'ra lá da rua, há um charco

onde o tempo avança e recua!

ao compasso d'um espirro

naquele dia de domingo!

No largo p'ra lá da rua,

há um menino a brincar,

da fome esquecido,

lavando os pés, moleando o umbigo!

P'ra lá do lago, que a chuva deixou,

um velho encurta os passos da vida

para olhar em frente, o inocente sorriso!

que consequentemente se repete;

Da criança que brinca, chapeando,

moleando o umbigo, para esquecer a fome

naquele dia de domingo.

Há no estômago da memória uma boca!

Um antigo sempre presente,

lamber de frio!... (...)



Ana Rosa Cruz


segunda-feira, 4 de maio de 2020

Choro




Choro
(...) O silêncio acorda letras,  nas páginas d'um livro,
após o poeta ter adormecido…
Navega agora sua barca só ondulante nas margens d’um rio
Seu olhar dilatava-se sobre todas as coisas
e nelas pousava atento e faminto…
Jorrava sangue vivo em seu lábio mordido
vezes sem conta lhe manchou, o batom do sorriso…
Como quem procurava almas,
em exaltado e clandestino lirismo
 Afloram agora gestos de dor incontidos
ao longe,  ouvem-se desabafos estremecidos
Vestem-se as palavras de negros gemidos
São elas que choram em poema,
naquele tempo contado, mas nunca na memória varrido
 por quem lhes deu um dia, vida, amor  e sentido.
O poeta adormeceu, mas nunca seu poema esquecido!...(...)

Ana Rosa Cruz





Crepúsculo





Crepúsculo

(...) O derradeiro raio de sol
calou a gritaria vermelha do crepúsculo...
O espaço pinta o ar de negro,
granadas de silêncio rebentam na noite...
O firmamento desembrulha luzes,
estrelas voadoras de pontas pintadas...
Por entre choupos de nuvens grisalhas,
espreita a careta angelical da lua
como princesa atrevida em neblina real...
O rugido da noite                   
e o trovejar das estrelas
na túnica sedutora do luar
é salmo adocicado na marmita do solitário...
O pó da lua a roçar a retina
acorda amores no flash do olhar,
alimenta imagens que levitam
no luminoso elevador prateado...
Relincham desejos no gemido do vento,
a alma crucificada nos lírios do luar,
tem presa aos dentes uma oração
timbrada na página dos olhos...
Noite minha,
luz dos solitários,
água benta na íris da agonia,
arromba a porta do meu peito,
solta-me a alma da prisão,
faz-me existir nos braços de alguém,
Nem que seja minha ultima recordação!... (...)


Ana Rosa Cruz