quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Ano Novo





ANO NOVO

É o fim de mais um ano
O fim de muitas coisas
E o inicio de tantas outras
Coisas que me acompanharão 
Até ao fim da minha vida

Como abraços entrelaçados
Como fita que amarra
Os nossos presentes
Trocamos nossos corações
Trovamos um eterno beijo
Tudo o que é meu será teu

Penso que o espaço e o tempo
Não serão nunca impedimento
Para quem se quer tão bem!
A alma não pede 
Espaço ou tempo para amar

A alma é livre para treinar beijos 
Há um oceano entre nós
Que tanto nos dói
Amar também é sofrer
Desespero de ter e não tocar
Não tocar e ser amado
Telepaticamente vamo-nos amando

Sentimento belo
Amizade pura 
Fruto de uva madura
Amizade brindada
Com um bom vinho
Amizade consagrada

Senti-me beijada
Muito abençoada
Consagração consumada
Entre os nossos Países
Em forma de nós

Sou fado e vinho do Porto
Tu és samba, carnaval e orixás
Mulatas como sereias
Filhas de Aí Manja
Temos cristos de braços abertos
Que abençoam nossas vidas

Deuses...
Aprovam a nossa tertúlia
De taças de vinho abençoado
Que ao pôr-do-sol rubro será
Por nós bebido e degustado

Enquanto houver vida em nós
Sempre haverá rima num poema
Lembrar aos descendentes
Que toda nossa razão
Nunca se deverá esquecer
Os nossos grandes heróis

Até Ontem

Dez-31.2015

Ana Rosa
e
Sebastião Guimarães

Feliz Ano Novo-2016



domingo, 20 de dezembro de 2015

Lugares de mim





LUGARES DE MIM

Procurem-me...
Em estradas de dificuldades
Desafio cada passo sem facilidades
Sentindo em cada passo, 
Crescer em mim, valiosas vontades!
Horizontes alargam-se 
Deixando minha marca,
Como leve aragem
Que suaviza, minha passagem

Crueldade quero que falhe
Feridas não cessam de sagrar
Mistura dolorosa de suor e lágrimas
Pedras que tiro de meu espaço
Que por vezes me forçam a parar
E, tudo do inicio tenho que recomeçar

Procurem-me... 
No meio do nada e no meio de tudo 
Na claridade do dia ou na noite escura
Traço minhas próprias linhas do futuro.
Erradico espinhos...
Nos trilhos do mundo, abro caminhos

Ninguém me impedirá de seguir
O ideal por mim, no início traçado
No meu rumo para um novo mundo 
E se me esquecerdes, não me procureis
Porque já vos esquecido, eu terei!
Para nesse caminho me encontrar
Se não desse esses passos
Que muito me custam a dar
Jamais sairia do mesmo lugar

Procurem-me...
Como sendo alguém,
Que saiba ouvir e escutar, 
Nascer e morrer
Que saiba bailar em sonhos
Apaziguar emoções...
Que saiba morrer por amor 
E também amar

Procurem-me...
Como um ser de mudança
Doçura de um olhar de criança 
E um sorriso de esperança
De quem sabe perdoar 
Uma má lembrança

Procurem-me...
Sem cor, credo ou raça
Como um descontentamento sentido
Por tudo ter ganho e perdido
De nada mais ter para dar
Que tem de partir
Por não ter onde ficar

Não me procurem por ser superior
Não sou de méritos
Nem emano autoridade
Não sou nobre, mas tenho nobreza
Sou um ser que somente sente
Tenho mil perdões para pedir
E outros mil para conceder
Como superior
Não tenho pretensões de o ser...

Procurem-me...
Em lugares da minha existência
Onde não há lugar para a irreverência
Nem para a falta de consciência
O maior pecado não é o ódio
Mas sim a indiferença...

Procurem-me...
Nos caminhos da sabedoria
Da experiência e paciência de vida
Procurem-me em terra macia
Nas flores de todas as cores 
Mas procurem-me...
Na água pura em taça vazia
Terão o reflexo que de mim vos ilumina
Todas as noites e dias
Da vossa vida

Até ontem

Ana Rosa


Rastos






Dor





DOR

Não cales o que silencias
Em ti, minha essência respira
Para que te eternize o espírito
E fortaleça a alma
Para que vivas a vida
Que surja em teu rosto uma lágrima
Curando essa ferida que arde
Sofrida de forma calada
O que arde, também cura

Não te cales!
Em cálices de amargura
Tal como eu me calo
O sofrimento a vida encurta
De forma suave faz tudo
Aquilo que eu não faço
Mesmo que te pareça loucura
Se o gritar te alivia...
Grita!
Não te sumas da vida
Essa, que deve ser vivida
Não sejas sombra subtraída
Sente tudo o que sinto
Sente-me...
No ar que respiras
Como eu fora soma da vida
No inatingível!...
Não te confundas...
Torna-te inconfundível
Não te ausentes
Marca a tua presença na vida
E vive!
E se viver dói...
A dor também te ensina!

Até ontem

Ana Rosa




terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Catador





CATADOR

Apanho o que deixaram cair de si
Esquivam-se de chegar pesados
Livram-se de si aos bocados
Apanho sentimentos vários
Não os distingo pelo caro e o barato
Tudo eu acho...
Tudo ponho no saco...

Apanho "bluffs" de jogadores
Que fizeram da vida dos outros
autênticos horrores
Dívidas de jogo pagam-se
com grandes dores
Apanho comerciantes à rasca
Que consigo levam o prejuízo 
Alegam o direito a ser ressarcidos
Por lucros cessantes
A avareza de hoje
Não é o prejuízo de antes

Apanho gostos e desgostos
Frutos podres acabados de caír
Coisas que as memórias perderam
Que alguém não deu valor
Não há lembrança e saudade
Nem mentira ou verdade
Só a ansiedade de não chegar atrasado
A qualquer lugar
Ou a lugar nenhum
Tudo eu acho...
E ponho no saco...

Apanho bocados de tempo perdido
De pessoas que perderam tempo
A aprender o que não era preciso
Apanho horários imprecisos
Relógios que só dão horas 
Aos sábados e domingos
O resto da semana estão de castigo

Apanho relógios sem conserto
Relógios de fantasia
Não prestam para nada
São uma porcaria
Os ponteiros estão parados
Só dão horas certas
À meia-noite e ao meio dia
Tudo eu acho...
Ponho no saco...

Apanho memórias vividas
De coisas que se plantaram 
E nunca colhidas
Cada um irá colher o que plantou
Se não plantou nada tem para colher
Apanho segredos
Fechados a sete chaves
Agora cabe-me dar voz
A estes sarilhos calados...

Apanho doçuras envenenadas
Esperanças congeladas 
Assassinatos, mascarados de suicídio
Apanho segredos de almofada
Histórias mal contadas
Bocados de corações partidos
Açoitados por terem comido
O fruto proibido

Até ontem

Ana Rosa




domingo, 13 de dezembro de 2015

Passos





PASSOS

Horas vazias e largas
Meu pensamento se dilata
Recordações de melancolia
Horas pardas do passado
Saudade que comigo se põe a par
Não são escuras ou claras
Mas por mim passam
Mesmo sem passar...

O ruído dos teus passos
Vazios espaços largos
Costume do hábito
De te ter ao meu lado
Aumentam as rugas da idade
Cruel idade
Que tudo nos tira
Sem nada nos dar

Sentimento de tua falta 
Faltas-me sempre e tanto
De mim me farto
De não te ter ao meu lado
O tempo passa...
Que passe por mim
Um bocado de saudade
De te ouvir gargalhar

Quando noutra coisa penso
As horas tornam-se vazias
Largas e mortas
Horas inglórias
Que só a morte pode dar


Ana Rosa





sábado, 12 de dezembro de 2015

A Sombra





A SOMBRA

O tamanho da nossa sombra depende do nosso desempenho,
de a fazer sempre crescer, ao nela investirmos o conhecimento.
Veremos que conhecimento e sombra crescem ao mesmo tempo!
Quando morremos, deixamos de ter sombra.
Somos a sombra que acabamos de perder.
Mas nada se perde, tudo cá se deixa.
É a lembrança iluminada de tudo o que a nossa sombra deu a conhecer.



Ana Rosa 



Sem Punição





SEM PUNIÇÃO

Não cala...
O seu grito silenciado
Como se fosse castigo
Ou pecado tivesse cometido
A boca só servia para comer
E calar o que comia!
Como pedaço de pão amargo
Que lhe amargavam a alma
Uma vida sem alma e parada!
Relógio parado que não badalava

Gestos, palavras...
Mal se percebiam...
Ditas em momentos de fúria
Toda a raiva surgia imponente
Duma ridícula simbologia
De austero chefe de família...

Eram extremos opostos
Entre amores e ódios 
Um dia atras de outro
Amanheceres escondidos
Que embalava no seu colo
...Entre os sim e os não!
Entre o decisivo e o indeciso
Entre desrespeito e obrigação
Desejos de partida concisos
De preferência, lacónico...
Sem dar lugar à divagação!
Sem ouvir qualquer aviso


Já sem esperança no rosto
De encontrar porto de abrigo...
Para ela nada mais havia
Que um dia atras de outro dia...
Restos de um corpo de alma caída
Ao olhar-se em um espelho
O espelho, sua imagem devolvia!
Imagem da sua cobardia...
Coragem de dar aquela relação
Um ponto final de cortesia...
Sua vida era uma curva linha
Com muitos acentos e vírgulas
E interrogações à mistura…

Suas lágrimas surgiam
Em seu rosto sumido
Valas profundas no seu rosto abriram
Pela força do hábito do maltrato
Lábios mordidos à dentada
Pela sua sentida raiva
Vida repleta do irrealizado
De momentos vazios e tortos
Como se fossem dádivas de nada

Queria tudo dizer e não podia
Sem poder dizer nada!
Considerava-se uma afta indesejada
Que a impedia de mover a língua
Como se um trapo na boca tivesse
Trapo velho e sujo, a asfixiava
Que calada a mantinha...
Que para tudo servia...
Até para amordaçar a língua!

Tinha ânsias de gritar
Traduzir suas marcas em palavras
Para quem sabia e nada fazia
Há quem ouça e veja só o que quer
Porque "entre marido e mulher...
...ninguém meta a colher"

Mente completamente vazia
Perguntas e respostas inexistentes
Mulher muito criticada
Por contar, histórias mal contadas...
Que chora apenas escondida
Sentia-se culpada e negada
Crente que nada valia
Dependia de quem mandava
Pois dela nada tinha...
Somente uma imagem denegrida!

Ouve observações cruéis
Faz perguntas a si própria
Sem obter qualquer resposta
É a miséria, entre os miseráveis
Que lhe dilacera mente e alma
Fica reduzida à insignificância
Pela vergonha sentida
De tudo ter e sentir a falta
Sempre só, triste e calada  
Ambiente de cortar à faca

Ao olhar-se no espelho
Projeta o seu futuro, prematuro 
Idealiza-o e ainda sente medo 
Mas suas palavras, não cala...
O mundo que conhecia, era pequeno!
Agora tem horizontes mais largos
Planeia uma  guerra sem armas
Com pactos de silêncio
Por cada mulher no mundo
Vítima de maus tratos
Um só minuto...
Somente um minuto de silêncio
E alguém que lhe conserte a alma!

Até ontem

Ana Rosa
  



Tatuagens





Amar







Momentos





MOMENTOS

O que por ti sinto
Com nada se compara
É o meu castigo
Olhar teu que sobre mim brilha
De forma incisiva
És droga permitida
És o meu pranto
O lógico e o ilógico
Força, que sem eu querer
Te deseja tanto...
E a tudo o mais me obriga...
És minha chegada e partida
És embriaguez maldita
Meu momento de fuga
Absinto da minha vida

Não consigo esconder
Que por ti morreria.
Encontro-me perdida
Na vastidão do teu olhar
Que reflete todo o amor
Esse que me queres dar.

Prendes-me...
Em momentos vorazes
Pequenos grandes momentos
De amor e paixão
Fugazes, no tempo de te querer
E não querer também
Em intensos momentos
Onde tudo desaparece!
Até a razão...

Até ontem

Ana Rosa



Meu Fado




MEU FADO

Ajuda-me a saber perder
De perdas não me contento
Tive tudo em minhas mãos
Era tudo mentira
Ilusão do meu pensamento

Agora que a vida se desfaz
No palco da desventura
Sou um ser sem razão
De saudade e amargura

Tenho saudade de ti
Tinha-te em minhas mãos
E logo te perdi
Ajuda-me a saber perder
A vida ao teu lado
Aquela que não vivi!

A recordação de ti
Está sempre presente
À noite, canto-te em fado
De dia, és meu tormento

Ajuda-me a saber perder-te
Ou trarei tua perda presente
Mentindo a toda a gente
Nesta alegria aparente

Ajuda-me a saber que te perdi
Não voltaste
Há muito que partiste
Arrastado pela corrente do tempo
Diz-me se ainda és gente
Minha alma ficará menos triste

O tempo apaga as feridas
Mas não um grande amor
A distância separa os corpos 
Mas não duas almas
Que nasceram para ficar unidas

Agora sem ti não sou nada
Canto o fado com melancolia
Em cada dia que passa
Com infinita tristeza
Por saber que te perdi um dia

Silêncio...
Vou cantar o fado!

Até Ontem

Ana Rosa