sábado, 12 de dezembro de 2015

Sem Punição





SEM PUNIÇÃO

Não cala...
O seu grito silenciado
Como se fosse castigo
Ou pecado tivesse cometido
A boca só servia para comer
E calar o que comia!
Como pedaço de pão amargo
Que lhe amargavam a alma
Uma vida sem alma e parada!
Relógio parado que não badalava

Gestos, palavras...
Mal se percebiam...
Ditas em momentos de fúria
Toda a raiva surgia imponente
Duma ridícula simbologia
De austero chefe de família...

Eram extremos opostos
Entre amores e ódios 
Um dia atras de outro
Amanheceres escondidos
Que embalava no seu colo
...Entre os sim e os não!
Entre o decisivo e o indeciso
Entre desrespeito e obrigação
Desejos de partida concisos
De preferência, lacónico...
Sem dar lugar à divagação!
Sem ouvir qualquer aviso


Já sem esperança no rosto
De encontrar porto de abrigo...
Para ela nada mais havia
Que um dia atras de outro dia...
Restos de um corpo de alma caída
Ao olhar-se em um espelho
O espelho, sua imagem devolvia!
Imagem da sua cobardia...
Coragem de dar aquela relação
Um ponto final de cortesia...
Sua vida era uma curva linha
Com muitos acentos e vírgulas
E interrogações à mistura…

Suas lágrimas surgiam
Em seu rosto sumido
Valas profundas no seu rosto abriram
Pela força do hábito do maltrato
Lábios mordidos à dentada
Pela sua sentida raiva
Vida repleta do irrealizado
De momentos vazios e tortos
Como se fossem dádivas de nada

Queria tudo dizer e não podia
Sem poder dizer nada!
Considerava-se uma afta indesejada
Que a impedia de mover a língua
Como se um trapo na boca tivesse
Trapo velho e sujo, a asfixiava
Que calada a mantinha...
Que para tudo servia...
Até para amordaçar a língua!

Tinha ânsias de gritar
Traduzir suas marcas em palavras
Para quem sabia e nada fazia
Há quem ouça e veja só o que quer
Porque "entre marido e mulher...
...ninguém meta a colher"

Mente completamente vazia
Perguntas e respostas inexistentes
Mulher muito criticada
Por contar, histórias mal contadas...
Que chora apenas escondida
Sentia-se culpada e negada
Crente que nada valia
Dependia de quem mandava
Pois dela nada tinha...
Somente uma imagem denegrida!

Ouve observações cruéis
Faz perguntas a si própria
Sem obter qualquer resposta
É a miséria, entre os miseráveis
Que lhe dilacera mente e alma
Fica reduzida à insignificância
Pela vergonha sentida
De tudo ter e sentir a falta
Sempre só, triste e calada  
Ambiente de cortar à faca

Ao olhar-se no espelho
Projeta o seu futuro, prematuro 
Idealiza-o e ainda sente medo 
Mas suas palavras, não cala...
O mundo que conhecia, era pequeno!
Agora tem horizontes mais largos
Planeia uma  guerra sem armas
Com pactos de silêncio
Por cada mulher no mundo
Vítima de maus tratos
Um só minuto...
Somente um minuto de silêncio
E alguém que lhe conserte a alma!

Até ontem

Ana Rosa
  



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