Nas profundezas d'um abismo
Embalando hábitos no cansaço
Desejava-os mortos e enterrados
Teimando em vir ao de cima
Em meu rosto húmido lamentado
Nas inclinações soluçantes da tarde
Tombando em meu corpo magro e franzino.
De barato tecido, fiz meu pequeno vestido
Em zig-zag talhado
Nas catacumbas da penumbra, costurado
Acrescentado com debrum dourado
Nele desenhei um inóspito labirinto
Em meu destino cerzido.
Escuro, imundo onde se perdem as sombras,
No tempo dividido...
Beleza jamais repartida como magnólia
P'la penumbra sepultada e imaculada!
Jamais por alguém, descosida foi ainda
Sons do vento me chamavam e eu acudia-lhe
Nos vazios onde espaços em janelas oscilam
Olhar meigo, perdido no estreito
Procurando meu corpo refletido nas esquinas
De horizonte acorrentado na carne
Como procurando a chave
Que abra meu reprimido cadeado
Numa folha de papel e livre lápis afiado
Como um fim em si mesmo
Tudo em mim começa sem se definir no meio de nada
Em minha lúcida boca fogueada
Língua em urgência
Vontade inteira, que vem do costume mastigado
Sem que seja vista, nem ouvida
Esbatido contra a luz oblíqua das vidraças
Como loucura atrasada
Numa transparência em sentido inverso.
Como caída folhagem
De tão acesa, depois de apagada
Tão pura e tão casta!
O anoitecer escorre-me nos ombros
O silêncio da noite pousa em meus braços
Como tantas outras, se contrasta de igual
Na turbulência do centro de tudo,
Como um começo e fim de tempestade
Recolhida em sua voz sossegada
Repleta de sabedoria silenciada
Olhar no horizonte,
Pendendo nas janelas sem umbral
Contrastando com o destino
Aberto num retorno diário de paciência
Como quem abre as cavernas
De todas as imagens em sequência.
Em meu sorriso carrego o mundo
Minha saliva sacia minhas desistências!
...Onde estão as palavras firmes por mim escritas
Nos primeiros raios da madrugada?
...Foram rasgadas
Desvaneceram-se ao longo do dia, que nunca acaba,
Como longínquo som, nas profundezas do abismo
E consentem-se tombar em tonalidades apagadas!