quarta-feira, 8 de março de 2017

Entre Mim e os Outros




Entre Mim e os Outros
(...) Entre meus dedos finos, 

Trago gestos repetidos
Deles fiz ecos, só por mim ouvidos 
Nas profundezas d'um abismo
Embalando hábitos no cansaço 
Desejava-os mortos e enterrados 
Teimando em vir ao de cima 
Em meu rosto húmido lamentado
Nas inclinações soluçantes da tarde 
Tombando em meu corpo magro e franzino.
De barato tecido, fiz meu pequeno vestido 
Em zig-zag talhado
Nas catacumbas da penumbra, costurado 
Acrescentado com debrum dourado
Nele desenhei um inóspito labirinto
Em meu destino cerzido.
Escuro, imundo onde se perdem as sombras, 
No tempo dividido... 
Beleza jamais repartida como magnólia 
P'la penumbra sepultada e imaculada!
Jamais por alguém, descosida foi ainda
Sons do vento me chamavam e eu acudia-lhe
Nos vazios onde espaços em janelas oscilam 
Olhar meigo, perdido no estreito 
Procurando meu corpo refletido nas esquinas
De horizonte acorrentado na carne 
Como procurando a chave
Que abra meu reprimido cadeado
Numa folha de papel e livre lápis afiado 
Como um fim em si mesmo 
Tudo em mim começa sem se definir no meio de nada 
Em minha lúcida boca fogueada 
Língua em urgência 
Vontade inteira, que vem do costume mastigado
Sem que seja vista, nem ouvida
Esbatido contra a luz oblíqua das vidraças 
Como loucura atrasada 
Numa transparência em sentido inverso. 
Como caída folhagem 
De tão acesa, depois de apagada 
Tão pura e tão casta! 
O anoitecer escorre-me nos ombros
O silêncio da noite pousa em meus braços
Como tantas outras, se contrasta de igual 
Na turbulência do centro de tudo, 
Como um começo e fim de tempestade 
Recolhida em sua voz sossegada 
Repleta de sabedoria silenciada 
Olhar no horizonte, 
Pendendo nas janelas sem umbral
Contrastando com o destino 
Aberto num retorno diário de paciência 
Como quem abre as cavernas 
De todas as imagens em sequência.
Em meu sorriso carrego o mundo 
Minha saliva sacia minhas desistências!
...Onde estão as palavras firmes por mim escritas 
Nos primeiros raios da madrugada? 
...Foram rasgadas
Desvaneceram-se ao longo do dia, que nunca acaba, 
Como longínquo som, nas profundezas do abismo 
E consentem-se tombar em tonalidades apagadas!


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