PÃO NOSSO
Sinto em ti o passar do tempo
Saudoso cheiro a pão quente
Penso-te como um indefinido
Longínquo mas sempre presente
Com clemência num pedido
Para que a ceifa fosse feita
Lá longe no tempo
O vento tocava-te e cedias
Em inclinações e dependência
Belos grãos de trigo em espiga
Que nossos olhares deleita.
Fundo-me em ti
Como um termo e começo
De colheita urgente
Numa antiga melodia
Cantam-se louvores
Em tua honra e existência
Com infinita harmonia e beleza
Cantiga que se cantava melhor
Com barriga não vazia
Padecerás numa mesa farta
Ainda vazia por enquanto
Nela sem nada
Tempo de colheita...
A foice ceifa-te
Abrindo feridas de morte
O que dará vida a muita gente
Nossa mesa enfeitará
A fome findará
É sublime a tua presença
Em divinas fatias
Pão numa mesa
É sinal de alegria
Veem-me à mente receios
Que tua falta se sinta!
Entristecida e envelhecida
Penso-te com saudade
Lembro-te já moído
E trabalhado em massa finta
Será feito pão na fornalha
De forma breve e serena
Á beira do forno alguém cantava!
A massa era abençoada
Nada se desperdiçava
Em cada ceifa que findava.
Era um tempo de alegria
Alimento eterno
Para o corpo e o espírito
Tornando faces mais rosadas
Nos rostos de homens famintos
Ceifa concluída
Pedaços de escrita amarelecida
Da cor de triga-milha
Pedaços de mais uma colheita
Com mais sabedoria
E menos tempo de vida
Como espiga de trigo
O pão nosso de cada dia
Até ontem
Ana Rosa
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