domingo, 1 de outubro de 2017

Porta



Porta

(...) A porta do meu coração
rubra, já não é mais
agora, é negra como breu
de felicidade já não bate
nem por saudade
e tão pouco por paixão.
Minha carne arrefeceu
a chave já não tem porta
trinco carcomido pela ferrugem
o resto, foi madeira comida
que com o tempo encheu o buxo
ao bicho do caruncho.
O endereço que tens é antigo
Não podes à morte dar ideia de vida
por mim não batas à porta.
Já terei partido.
A casa há muito está vazia.
Ninguém da morte ressuscita.
Não dês passos em vão.
Esquece essa antiga ilusão.
As janelas ruíram...
aquelas, onde por ti esperava
passavas e para lá não olhavas
ou fingias não olhar.
Nem sempre vinhas
ou passavas por outro lado
por entre sombras frias.
Hoje é uma casa triste
quartos vazios sem luz
com o leito vazio.
Já não há candeia, apagou-se.
A chama que ardia
dentro do peito, extinguiu-se
faltou-lhe o azeite, consumiu-se.
Tanto tinha para te dizer
nunca me viste nem ouviste.
Meu coração esfriou
aos poucos deixou de bater
parou de esperar pala tua vinda
transformou-se em pedra fria.
Hoje, já vens tarde.
As horas morreram de tristeza e cansaço.
Do passado já nada me exorta.
Dia que morre, jamais torna a ser dia.
À porta do passado não batas mais.
Se a alguém perguntares
a razão de tão triste desenlace
que te digam a verdade, só a verdade...
Que no final de mim, somente por ti sorri
para que nunca na vida chorasses
quando em vão me procurasses
e não mais encontrasses
nem porta, nem o meu coração
tudo daria para que me amasses
nem que fosse um só dia.(...)

Até ontem

Ana Rosa

Arte Kemal Kamil




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