quarta-feira, 10 de junho de 2015

Miradas




MIRADAS

A noite adormece
Sente o toque de arremesso
Em seu leito ainda estão presentes...

As músicas que se tocaram
Sons mornos dum dia acabado
Nas cordas duma guitarra
Como que pedindo da vida
Sorte e muito sucesso
Sons que exaltam a alma
Alma que fala
Com orgulho de ser
Um verso sem rima
Que rimam nas linhas da vida
Como se rimas fossem
Leitura da sina
Leitura antiga
Aprendida desde menina
Sem saber que significado tinha

Sinas marcadas na palma da mão
Na linha da vida
É como uma estrada
De terra batida
Linha de idas e vindas
A liberdade de um cigano
É um dever sem contradição
Nunca nega sua etnia
Ao negá-la...
Trocaria seu espirito livre
Por um espirito numa prisão

Tudo está vivo na memória
Cantado como vitórias
Em forma de amargas histórias
Nas cordas duma guitarra
Como lição de vida aprendida
Com muitas cicatrizes
Nas feiras dita e ouvida
Como o cantar duma cigarra

Trabalha, canta e dança
Penteia sua bela trança
Seu olhar repleto de esperança
Dança porque estão olhando
É rosa vermelha que encanta
As labaredas da fogueira
Atitude e postura duma cigana bela
Que dança e encanta
É acompanhada por Sta. Sara
É a sua padroeira
Que a abençoa com sua estrela
Todos seus movimentos de mão
Espantam de sua vida os "ais".
Tudo nela é harmonia
Encanto e magia
E tantas coisas mais

Acalma sua alma
De alguma agrura da vida
Espalha alegria
E tentações mudas
Logo esquecidas
Porque desde criança
Está comprometida

Com suas ásperas mãos
O bater de palmas desgarrada
Palmas desconcertadas
Bater calmo e outro apressado
Como que açoitando faltas
Ao som da música de guitarra
Faz esquecer ocasiões amargas
Como se fosse mágica
Que fazem cessar
Por meros momentos a dor
O calor e o pó da percorrida
Vida de estrada

Nada da vida reclama
Bela cigana
Tudo deixa acontecer
Desde o cair do dia
Até a madrugada nascer.
Nada na vida falta
Tanto lhe faz
Andar calçada ou descalça
Com muita tristeza afasta
A eterna saudade
Dum velho e imaculado bandoneon
Recorda com saudade
Quem tão bem o tocava

Recorda o nunca esquecido avô
O sempre relembrado patriarca
Inesquecível pelo povo cigano
Sempre relembrado com amor
Vestido de negro
Com chapéu de aba larga
Relembrando sempre ao povo
Como se deve de comportar
Um bom cigano
Reza com todo o fervor
Por sua alma a Sta. Sara
Alma que se revelou
E se foi com o vento

Num ou outro caminho
Ao longo da estrada
Com sentimento que fala
Sem amarra e com garra
Cigano não tem casa
Vive no limiar do tudo ou nada
Deita-se onde calha
Desde que em seu redor, haja
Haja amor e alegria
Honra e uma fogueira
Ao som duma guitarra

Sinto o tremor das palmas
Danças com meias voltas dadas
Ficando outras meias em falta
Cantigas cantadas
Com o calor da alma
Como uma oração
De graças a Sta Sara
Por existir ainda tanto amor
No meio de tanta desgraça.

Tocado ao som duma guitarra
De palmas acompanhada
Desgraça que se acalma
Nas cordas duma guitarra
Que afasta toda a dor
Com uma canção de amor.

Tudo em si realça
Tudo o que tenha alma
Desde peça de ouro ou prata
Em seu tom de pele dourada
Tudo o que tem alma reluz
Nem que seja um colar de lata

Até Ontem

Ana Rosa

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