FRACASSO
Em cada dia que passa
Revelo o meu fracasso
Por carência dum amigo abraço
Desisto de cansados laços
Que se transformam em nós cegos
Minhas mãos descem
Neste corpo desassossegado
Que teme o desespero
De todo o sossego
De não ser inteiro e completo
Aos poucos desaparece
No refúgio do horizonte
Não conta façanhas
Nem vive de manhas
Consome-se das suas entranhas
Esmorece e desaparece
Na sombra da demora
Dá conta do que acontece
Em sentimentos incertos
Vê ao longe o sentido contrário
Faz de conta que esquece
Não esquece seu estar de inverno
Onde a alma hiberna
Chama que se consome em si
Destroço emergente que se despede
De tudo o que perece
Aos poucos seu conforto desaparece
Entre os dedos das mãos
Tudo se vai, tudo se escapa
E o abraço que não vem!
Já não há vícios nem vicissitudes
De olhar seco...
Limitado pela desconfiança
Reclama com pouco vigor
Reclama água de pouca dura
Vida feita de farturas breves
De pouca água e água nenhuma
Já não se reclama
Atola-se em lama
Consome cultura
Na sua vida só cabe
O que chamam de penúria
Apressa-se para não ser inculta
Cada hora e cada minuto
São contados em segundos
A vida segue
Tão longe de si
E tão perto
Como não queria fracassar!...
Ser mais deste corpo
Encerrado nele mesmo
Que nem a dor o reclama
O que tem este corpo que só encanta?
O que encanta num corpo desencantado?
Que há muito alegra vistas!
Para si, é só um silêncio!
No final de um concerto
Com preliminares de fim desconsertado
Que não chega ao fim
Que se apressa, porque se faz tarde
Ó, vida !...
Porque existes?
Se és tão examinada?
Caminho no imprevisível
Aprendo com os meus fracassos
A vida não tem abraços
Desfez-me em meros bocados
Nada me prende a ela
Até ontem
Ana Rosa
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