NAUFRAGOS
Calem-se!
Calem-se por momentos
Deixem-me ouvir o silêncio
De cada momento
Palavra visceral
Que se diz
Quando a alma sente
Sem nada dizer
O vento espalhando silêncios
De nascente a poente
Como um lamento prudente
Sem um gesto
Sem um manifesto
Sem choro escondido
Só um sopro no rosto
Um rosto já perdido
Uma bofetada em face tapada
Como tempestade arrojada
Com quente aragem
Pela chuva refrescada
Mas de fria humilhação
O derradeiro impulso
Para que aporte
Em nossa vida uma barca
Com vela já rasgada
Que emerge das profundezas
Em silêncio
Como sendo uma palavra
Calem-se por momentos
Escutem o silêncio
Duma noite estrelada
Sem rugas de expressão
Já de idade avançada
Silêncio!
Deixem-me dar os bons dias
A esta bela madrugada
Que é o futuro da palavra
Tudo o que se faz
De mais essencial
Faz-se pela calada
Em momentos de silêncio
Deixem-me ouvir de ombros nus
E achar o momento
De cada asilo
Em porto de abrigo
Mas calem-se
Calem-se por momentos
Para que me possa ouvir
Por alguns minutos
Silêncios de todo o mundo
Calem o barulho
Da grandeza hipócrita
Até ontem
Ana Rosa
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