quinta-feira, 4 de junho de 2015

Naufragos



NAUFRAGOS

Calem-se!
Calem-se por momentos
Deixem-me ouvir o silêncio
De cada momento
Palavra visceral
Que se diz
Quando a alma sente
Sem nada dizer
O vento espalhando silêncios
De nascente a poente 
Como um lamento prudente 

Sem um gesto
Sem um manifesto
Sem choro escondido
Só um sopro no rosto
Um rosto já perdido 
Uma bofetada em face tapada
Como tempestade arrojada
Com quente aragem
Pela chuva refrescada
Mas de fria humilhação
O derradeiro impulso
Para que aporte
Em nossa vida uma barca
Com vela já rasgada
Que emerge das profundezas 
Em silêncio 
Como sendo uma palavra

Calem-se por momentos
Escutem o silêncio 
Duma noite estrelada 
Sem rugas de expressão
Já de idade avançada
Silêncio!
Deixem-me dar os bons dias
A esta bela madrugada
Que é o futuro da palavra

Tudo o que se faz
De mais essencial
Faz-se pela calada
Em momentos de silêncio
Deixem-me ouvir de ombros nus
E achar o momento
De cada asilo
Em porto de abrigo

Mas calem-se
Calem-se por momentos
Para que me possa ouvir
Por alguns minutos 
Silêncios de todo o mundo
Calem o barulho
Da grandeza hipócrita

Até ontem

Ana Rosa

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