A HORA MUDOU
Pensei ter chegado cedo demais
Mas a hora adiantou
Já tudo tinha sido atribuído
Não havia um papel para mim
Faria de cega e leria mímica...
Mas como o dever me obriga
Espero ali mesmo pelo amanhã
Minhas mãos já tremem
Mas mesmo tremelicando
Tentam agarrar-se ao que já perdi...
Ao papel de cega que lia mímica
Já tive fé e amei a vida.
Agora, não amo ninguém
Fiz-me desaparecer há muito.
Onde estão os abraços e vivas
Em forma de elogios?
Tudo se esfumou como por magia.
Que ironia a minha vida.
Tentando um papel de cega lendo mímica
Minha esperança esfumou-se
Ouço ecos dum passado longínquo
Como saída dum filme de terror...
Ainda me cheira a queimado
Deus meu...
Há tantas cinzas pisadas
Rastos de pessoas arrastadas
Enxergo com um olhar de saudade
Para a porta de entrada na rua
Onde tantas vezes o teu olhar
Me deixava toda nua
Já nada sinto de tanta euforia
Fui beijada e beijei-te
E mais um beijo eu pedia
Até que um dia, o sabor do beijo
Teve gosto de despedida.
Espero um papel num filme
Duma cega que lia mímica
Até Ontem
Ana Rosa
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