O MARINHEIRO
Por esses imensos mares
O olfato comigo navegou
Cheirou outros ares
Ares de sabedoria e ignorância
Está agora ancorado...
Só restam lembranças
Trouxe-as comigo na mala
Pedaços de lugares imaginários
Com esperança de lá voltar
Agora com o casco rombo
Com um sereno olhar
Recordo meu orgulho
De em ti mar, ...navegar
Meu barco acariciava as ondas
Como ninguém acaricia
Os seios duma mulher
Ondas salgadas de doçura
Mergulhava nelas bem fundo
Era apanhado pela sedução
Por um azul escuro profundo
Estava mesmo noutro mundo
Profundo azul marinho
Alucinação de carente marinheiro
Visionava terra onde só havia mar
Ir e não voltar e lá poder ficar
Encarnava assim um prazer
Das profundezas do mar
Que mora em sua mente
Como um saudoso lembrar
Nada consegui trazer
Nem somente um pouco de mar
A única coisa que trouxe
Foi a paixão pelo mar
Era escoltado por sereias
Cantavam versos do azul profundo
Versos de encantamento
Recordações de bravura
Momentos que se desdobram
Em linhas invisíveis do pensamento
Daquele horizonte infinito
Agora o casco está rombo
O marinheiro não pode navegar
Resta-lhe a mala vazia
Abre-a à vista de todos
Ninguém enxerga nada
Só o nome do navio gravado
O marinheiro está atento...
Do vazio da mala saem lágrimas
Gritos de ódio e amor
Sereias beijam-no ardentemente
Ouve-se ao longe poemas
Poemas desses lugares
Do profundo azul
Do fundo do mar
O casco está rombo
O mastro preste a cair
O sol escaldante o secou
Seu marear o destino apagou
Sua vida não tem mais tino
Deixou a juventude em maresia
Em terra, já se perde no caminho
Triunfos que nunca teve
Foi cegamente vendido
Espelho com imagem refletida
Marinheiro que não volta a navegar
Cego... não mais navegará
Com um olhar perdido
Senta-se e ouve
O adorável som das ondas do mar
Até Ontem
Ana Rosa
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