terça-feira, 2 de junho de 2015

O Marinheiro




 O MARINHEIRO

 Por esses imensos mares
 O olfato comigo navegou
 Cheirou outros ares
 Ares de sabedoria e ignorância
 Está agora ancorado...
 Só restam lembranças
 Trouxe-as comigo na mala
 Pedaços de lugares imaginários
 Com esperança de lá voltar

 Agora com o casco rombo
 Com um sereno olhar
 Recordo meu orgulho
 De em ti mar, ...navegar

 Meu barco acariciava as ondas
 Como ninguém acaricia
 Os seios duma mulher
 Ondas salgadas de doçura
 Mergulhava nelas bem fundo
 Era apanhado pela sedução
 Por um azul escuro profundo
 Estava mesmo noutro mundo

 Profundo azul marinho
 Alucinação de carente marinheiro
 Visionava terra onde só havia mar
 Ir e não voltar e lá poder ficar
 Encarnava assim um prazer
 Das profundezas do mar
 Que mora em sua mente
 Como um saudoso lembrar

 Nada consegui trazer
 Nem somente um pouco de mar
 A única coisa que trouxe
 Foi a paixão pelo mar

 Era escoltado por sereias
 Cantavam versos do azul profundo
 Versos de encantamento
 Recordações de bravura
 Momentos que se desdobram
 Em linhas invisíveis do pensamento
 Daquele horizonte infinito

 Agora o casco está rombo
 O marinheiro não pode navegar
 Resta-lhe a mala vazia
 Abre-a à vista de todos
 Ninguém enxerga nada
 Só o nome do navio gravado

 O marinheiro está atento...
 Do vazio da mala saem lágrimas
 Gritos de ódio e amor
 Sereias beijam-no ardentemente
 Ouve-se ao longe poemas
 Poemas desses lugares
 Do profundo azul
 Do fundo do mar

 O casco está rombo
 O mastro preste a cair
 O sol escaldante o secou
 Seu marear o destino apagou
 Sua vida não tem mais tino

 Deixou a juventude em maresia
 Em terra, já se perde no caminho
 Triunfos que nunca teve
 Foi cegamente vendido
 Espelho com imagem refletida
 Marinheiro que não volta a navegar
 Cego... não mais navegará
 Com um olhar perdido
 Senta-se e ouve
 O adorável som das ondas do mar


Até Ontem

Ana Rosa

Sem comentários:

Enviar um comentário