quinta-feira, 11 de junho de 2015

Altivez




ALTIVEZ


Já sem presença de altivez
Vivo à sombra de migalhas
Do que me resta de outra vez...
Mesmo com muitas falhas
Vivo envolta em tralhas
Que a juventude me deixou
Em sombras desiguais 
e paralelas no tempo 
Onde dobra o que é lembrado 
No mesmo horário de sempre 
Com o mesmo sentimento
Que se mantém sempre presente

São lembranças com cabimento
Recordações abençoadas no tempo
Em parte incerta
Sereno, o relógio parou
Deixou de badalar e sem regras
Horas que nunca são iguais
Tudo mudou
Já dou valor à pequenez
Com o pequeno me contento
O pequeno e o pouco
São horas compridas
E satisfação de ontem e anteontem

De mim não tenham pena
Ainda me lembro
da primeira vez de tudo
De mim saíram frutos
Agora já maduros
De mim saíram Iris e Ulisses
E mitologias
Apressadas e lentas nostalgias
Que o relógio da sala lembra
Em cada minuto que demora
E nunca mais chega a hora para tudo 
Fermenta o pão,
Que nunca hei de comer
Posso não ter o que comer
Mas lembro-me dos sabores
Que tão bem me sabiam
O tempo tudo traz e tudo leva
E quando damos conta
O vento tudo leva

Passei anos de janela aberta
Olhando para fora
O futuro foi embora
O passado vive na soleira da porta
Espera a sua vez hiperbolizando
A sentença de perpétuo esquecimento 
À espera que eu me esqueça...
De mim 
Da minha altivez...
De vez!

Até Ontem

Ana Rosa

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