quinta-feira, 4 de junho de 2015

O Meu Grito



O MEU GRITO

Vivo num teatro
Teatro de sombras
Emprestei-me
Não me devolveram
Quem conheci não voltou 
Ficaram prisioneiros
Da aventura de escape 
Despiram-se dos seus bens
Delapidaram patrimónios 
Só resta suas mentes viciadas
Sem fé 
Sem forças
Agonizando
"Deixam-se ficar...
"Para eles já não há lugar
Em lugar nenhum..."
São reduzidos ao mesmo nome
“carochos”
“Catantes da moedinha”

Olhados com desprezo, desdém e pena
Suas vidas são resumidas a pouco
É uma manta retalhada de lembranças
Uma divisão de sonhos
Em partes iguais 
Diminuindo-se em sonhos 
Da subtração da sua razão 
Cada dia é um pouco menos
Que o dia anterior...

Menos carinho!
Menos comida!
Menos um lar!
Menos dignidade!
Mais fome de tudo!...

Minha vida é resumida 
Ao conteúdo duma seringa 
Sou viciado!
Ganzado!
Vicio que foi luxúria
Da minha imprudência! 
Tive tudo no meu passado
Mulher e filhos...
Era bem casado
Era feliz e não sabia
Não valorizei essa felicidade 
Já tarde percebi a realidade
Deste caminho sem nexo
E que não podia voltar atras
Tenho vergonha

Promovi-me a ser um inútil 
Inspiro-me na minha desgraça
Sei o que é ser digno de pena 
É inútil pensar em arrependimento
Nos dias de névoa já nada reconheço
A noite é fria e húmida
Traz com ela mais um momento
O do "pó bento"...
Anseio por ele...
Mas sinto-lhe ódio também
É o querer e não querer deixar
Se deixar, o que me resta na vida?
Não encontro solução
Fumo um cigarro, devagarinho 
Para adiar a viagem de alucinação 
Adiar a minha realidade
Adiar este presente absurdo
Adiar todos os percursos que fiz
Ajudem-me!
Se for a tempo de cumprir horários
Mas não venham tarde
Com oportunidade nenhuma

Ao meu lado vejo outras vidas
Tão desertas como a minha
Não quero ser deste fuso horário
Composto de momentos de nada
Não tenham pena de mim
Só a pena não me basta...
Eu sei que "Fiz de mim o que não soube...
...e o que podia fazer por mim não o fiz" ***
Peço ajuda!..
Estou num beco sem saída
Algures em todo o mundo!
E não estou só

Até Ontem

Ana Rosa

*** (Retirado do poema A Tabacaria de Álvaro de Campos)

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