terça-feira, 2 de junho de 2015

Culpa Aparente



CULPA APARENTE

Eram seus passos seguros
Deixaram-no de o ser
Tinha mãos calejadas
Agora de liberdade despojada
No seu rosto correm lágrimas

Lágrimas de saudade 
Da vida que tinha
Dinheiro não abundava
Vivia como podia

Lágrimas de solidão
Perdeu os amigos 
Que julgava que tinha
As costas lhe viraram
Nenhum caminho é longo
Na companhia dum amigo 
Dum amigo de verdade... 
Sentia-se só 
Longe da liberdade

Lágrima repreendida
Por encobrir a verdade 
Que sempre foi mentira
Sua inocência 
Nunca foi provada

Como a justiça é cega...
Da surdez e mudez é colega
É o seu calvário 
Só o desespero o aconchega
Está preso e cumpre pena
Sente-se como peixe
Fora do seu aquário 

A esperança não o abandona
Toda a verdade é mistura
De azeite e água pura 
O azeite é a verdade
Sempre virá à tona

Pensa num ditado popular
"Que não há bem que nunca acabe
Nem mal que sempre dure"
A verdade não chega
Só lhe resta a esperança
Desta incerteza...

Não quer que sintam pena
Quer somente uma visita
Uma visita calada
Pena não cumpre penas

Reticências e preconceitos
São rótulos autênticos
De implacáveis sentenças 
Entrou recluso sem culpas
Remendou sua alma 
Com esta imposição
De moldar um comportamento 
Nunca foi seu pensamento
Engano deste sistema

O presidio é uma escola
Da profissão do engano
Vê-se de tudo na prisão
Ladrão que protege ladrão
Ladrão que rouba ladrão
Pode parecer confuso
Mas na verdade não é

É a verdadeira consciência
Confusa do recluso
Entre as grades há contradição
Há bons e maus
Há o polícia e o ladrão 
Há ilhas com lutas silenciosas

Quando sair do presídio
Evitará qualquer sarilho
Sairá muito diferente
De mãos vazias
Impio de positivo pensamento
Irá só com metade de sua vida
Lembrará sempre a inocência
Que já teve um dia 

Irá de alma amarrotada
Enxovalhada
Esperou a derradeira hora
Mordendo o lábio
De silenciosa raiva

O barulho daquela chave
Que lhe devolvia a liberdade
Parecia eco de trovão engasgado
Não olhou para trás 
Levava consigo os ossos
Do seu futuro ofício
Ofício com risco
Quem não arrisca não petisca
Como lhe ensinaram na prisão 
O ladrão nunca tem razão 
A ocasião faz o ladrão

Fora de tudo e já cansado
Andado por todo lado
Sentou-se numa escada
Escura e suja
Com expressão amarga
De quem não se reconhece
Naquele estado de amargura

Olhar duro amargo e triste
É o grito do espirito 
Dum homem em estado de sítio
Está perdido...
Fora do presidio

Há uma questão que o baralha
"Onde está a presunção de inocência
até que se prove o contrario?"

O que fazer agora?
Ajudem...
Digam!

Até ontem

Ana Rosa

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