BRASAS
Crepita a chama na lareira
Chama que se esgota e queima
Recordações de passado longínquo
Recordado mesmo que não queira
Seu rosto é enrugado
A vivacidade do seu olhar
Permanece ainda inteira
Rugas profundas em rosto envelhecido
Que já foi elogiado por ser tão lindo
Que a angustiada saudade lembra
Tal lembrança provoca-lhe um sorriso
Como se nesse momento um elogio ouvisse
Todo o passado tem chama
Que o presente recusa esquecer
O presente tem ausências
Que o passado dá a relembrar
Restam brasas ainda vivas
Que o passado ainda mantém
Em banho-maria são mantidas
Lágrimas por verter, que a memória
Que a memória ainda retém.
Só uma foto antiga à mente lhe aflora
Saudade do que foi outrora
As forças que tinha antigamente
O espelho dá-lhe agora uma imagem nova
Mas o que sente, é o mesmo de antigamente
Vai contando repetidamente
Vezes sem conta a sua antiga história
Sua alegria neste momento
É um pouco de ternura
Um pouco de atenção
Uma refeição acompanhada e quente
Uns minutos de conversa
Um ouvido amigo que ouça seu lamento
Para aquietar seu coração
De uma má recordação
Lembrar aos outros
Que ainda é gente
Lamenta nada poder dar em troca
Presenteia-nos com suas vagas memórias
Lembra-nos para não desperdiçar a vida
A vida é como um livro em branco
Onde nos revelamos ao longo dos anos
Cada pessoa é única
Assim como sua história
Estão escritos todos os dissabores
Alegrias, prantos e amores
E dores ao longo da vida
Este livro não tem heróis nem heroínas
Nem batalhas ganhas, ou vencidas
Este livro é único, em experiência de vida
Não está à venda em nenhuma livraria
Este livro tem principio, meio e fim
Com olhar triste nos confessa
Que muitos entes queridos
Com pouco tempo de vida
Deixaram de crepitar
Em cinza cedo se transformaram
Deixando corações partidos
Já cansada com tom de voz sumida
Nos dá o exemplo de uma simples lareira
Para ela bem presente
E para muitos esquecida
De labareda apagada e brasa ainda viva
Lenha numa fogueira por arder
Como ponto de partida
Brasa morna ainda viva
Em fase de despedida
Principio e fim da vida
(Dedico este poema a todos os cuidadores e
antigos colegas de oficio.
Oficio digno e repleto de humanidade.
E aos que pereceram nas minhas mãos...
ainda hoje verto uma lágrima...
de muita saudade...)
Até Ontem
Ana Rosa
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