quarta-feira, 27 de maio de 2015

Perspetiva Aberta



PERSPETIVA ABERTA

Guardem tudo para o fim
Para quando nenhuma alma restar 
Guardem tudo
Para quando nada houver
Tudo será deserto
Nada mais se poderá erguer

Que prudência não falte 
Não se apressem guerras 
Nem destruições em massa
O massacre a morte encerra 
Não se apressem... 
Que o tempo tenha calma 
A mente do poeta ainda reflete 
O voar da gaivota com uma só asa 
Se o principio chegar antes do fim...
Aí sim... 
Nunca saberemos o que restará 
No fim! 

Em mil pedaços se partiu 
A pedra filosofal 
Homem insano, tudo perdeu!
Noção de bem e de mal 
Dando ao homem, uma certeza mítica
Era possível obter riqueza 
Juventude eterna e infinita 
Será o princípio do fim!

Ainda há tempo
Para não guardar
Tudo para o final
Quando já nada houver 
Tudo será, um desértico areal

Com terra de seco ventre
Nenhuma semente germinará
Só restará a amargura e sol quente
Nada será semeado por gente
Teremos fome de tudo
Seremos em tudo sedentos 
A fome, única fartura será

Jaz o corpo da vida
Nas profundezas da terra
Cova mortal
Fechou-se antes de ser aberta
Não guardem tudo para o final

De sede morrerão à beira do poço
De água imunda...de "merda"
Deixem tudo para o fim
Com uma porta entreaberta
Para que o sonho se evada

Se houver uma brecha no tempo
Para que um infinito longínquo me leve
Não entendi porque me dizem
Para deixar tudo para o fim

Que se dê abundância a corpo faminto
Em ventres dilatados de fome 
Como se fome fosse virtude
De mesa posta de miserável fartura
Candelabro aceso
Que se acendeu por engano
Rezam-se orações 
Já sem memórias das mesmas 
Só saem gemidos de canto
Não deixem tudo para o fim!

Havendo uma mão estendida
Que se aproxime de mansinho 
E nos pede um aconchego
Bocas abertas e olhos grandes
Corpo esquelético franzino
Com tom de grito sumido
Grito desesperado
Dum menino ainda vivo
"de abrigo em abrigo"

Anda em círculo no caminho
Da ganância e intolerância
De políticas de contraditório "assobio" 
Atirando pedras a feridas mortais 
Propõem pactos de engano 
Sem pesar o "pacto e os danos colaterais"
Não deixem tudo para o fim! 

Desmembram-se membros aflitos 
Mães procuram pão para seus filhos
São cortadas línguas 
Para que pedidos de pão se extingam

Para os politicamente corretos
De luxúria se viverá...
Com língua bífida...
A fome fará parte de exposição artística
"Mão decepada, com língua raquítica"
Arte surrealista
Não deixem tudo para o fim!

E que exista uma única sentinela
Nem que seja só uma
De arma em punho... descarregada
Mas ainda com língua
E dom de palavra
Aprumado e moribundo
Mas não cego, surdo ou mudo
Que se prepara para lançar
Suas penas pelo mundo 
E alertar, que quando tudo acabar
Não restarão penas para apanhar
Para impedir o princípio do fim

O princípio do fim
Ou o que resta da terra
Homens de mente aberta 
E consciência moderna
Que ainda habitam esta terra
Que aos poucos se esfarela
Pela fome, pragas, poluição e guerras
Era tão bela
Deixou de o ser

"Não me digas para guardar
tudo para o fim"
O teu fim terá inicio
Aqui mesmo...à minha frente!
Com clemência me pedirás perdão
Cortarei tua língua
Deceparei tua mão
Não haverá perdão
Para quem foi politicamente correto
Serás visto como fracassado
Da escassez que plantaste
Serás insignificante
Serás líder piolho

Politicamente correto... 
Anormal!
Sem cabeças para atormentar
Não habitarás mentes
Para as possuir
Deixarás de proliferar

Até ontem

Ana Rosa

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