CÁ OU LÁ
Ela está aqui
Mas não está cá
Está dentro dela
Quando emerge de si
Conclui que estava lá
Cá só há conversas sem nexo
Olhando-nos firmemente
Como se nos quisesse arrebatar
Entrar na nossa mente
Arrastar-nos para o seu mundo
A discinesia apodera-se de mim
A vontade de me mexer não tem fim
Não me movo, não consigo
O que vai ser de mim?
Minha vida é uma soma de cores...
Tanta cor...tanta cor
Minha vida de cor negra
Como a permanente sonolência
Já não me sinto em cor nenhuma
Minha vida perdeu a cor
Em círculos de antidepressivos
É a cadeia de estar cá e lá
Não estando em sítio nenhum
As portas estão bem trancadas
Há princesas encantadas
E muitos papões bizarros
Tenho medo, muito medo
Que ao ir-me embora
Não me consiga encontrar
Nem cá... nem lá
Conheço muita gente de lá
Com mente sã como a minha
Que escrevem também poemas
E os meus?
Serão as vestes da mortalha
Que sempre quis ser declamada
Acabando num manicómio rasca de doidos
Internada, obrigada e drogada
Lá, sou o que quero
Cá, sou o que os outros querem
Adeus cá... vou para lá
Está declarada a incapacidade...
Permanente e definitiva
...disse o psiquiatra
Até Ontem
Ana Rosa
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