sábado, 23 de maio de 2015

Cá ou lá





 CÁ OU LÁ

 Ela está aqui
 Mas não está cá
 Está dentro dela
 Quando emerge de si
 Conclui que estava lá
 Cá só há conversas sem nexo

 Olhando-nos firmemente
 Como se nos quisesse arrebatar
 Entrar na nossa mente
 Arrastar-nos para o seu mundo

 A discinesia apodera-se de mim
 A vontade de me mexer não tem fim
 Não me movo, não consigo
 O que vai ser de mim?
 Minha vida é uma soma de cores...
 Tanta cor...tanta cor

 Minha vida de cor negra
 Como a permanente sonolência
 Já não me sinto em cor nenhuma
 Minha vida perdeu a cor
 Em círculos de antidepressivos

 É a cadeia de estar cá e lá
 Não estando em sítio nenhum
 As portas estão bem trancadas
 Há princesas encantadas
 E muitos papões bizarros

 Tenho medo, muito medo
 Que ao ir-me embora
 Não me consiga encontrar
 Nem cá... nem lá

 Conheço muita gente de lá
 Com mente sã como a minha
 Que escrevem também poemas
 E os meus?
 Serão as vestes da mortalha
 Que sempre quis ser declamada
 Acabando num manicómio rasca de doidos
 Internada, obrigada e drogada

 Lá, sou o que quero
 Cá, sou o que os outros querem
 Adeus cá... vou para lá

 Está declarada a incapacidade...
 Permanente e definitiva

 ...disse o psiquiatra


Até Ontem

Ana Rosa

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