sábado, 23 de junho de 2018

Reverso



Reverso

(...) Lá por ter plantado um inverno
Entre neblina, n’um arenoso terreno
baldio e infértil
E após tal plantio
Ter nele nascido um verso
Não pensem que quero ser 
Imortalizada p´la história,
nem fazer soar as cornetas da glória
Ao ter adotado este critério subtil
Por muitos, considerado ridículo
Incompreensível, absurdo misterioso
e até imbecil...
Nem tão pouco, censurada ser p´los fenómenos,
No eixo da terra, em desvio 
Desequilibrando a rotação do universo
As mais belas flores 
Nascem, vive e sobrevivem, 
Em climas e terrenos adversos
Portanto, se nem tudo é areia no deserto, 
Nada vejo de errático, plantar em terra árida,
sementes de inverno!...
Não creio por isso ser merecedora
De especial dedicatória
Pois, meu amigo mais perverso,
na cara me fechará com sua porta
Esquecer-me-á mais depressa 
do que parece e me sacudirá da sua memória!
Decerto intenção terá me rotular de idiota!...
Se quiser ter eu alguma glória
Ser lembrada por ter plantado 
Algo eterno
Não escreverei um só verso,
Mas sim, um poema, em reverso
Que mostre ao mundo, 
Diferentes trajetórias 
Como quem sobe e desce ao inferno, 
Carregando todos os dias o vazío 
das mesmas e certas horas
Não deixarei jamais,
Declamar o odor eterno das rosas!
Embora muitas, de caules lisos 
Com espinhos em inverso
Mesmo assim sendo, destes louros 
Não me despeço!
A beleza de alguns versos, 
Soam-me a fantasmagórica farsa 
e perversa, glória!
Misturar-me-ei com toda a escória
Dos humanos serei, não o mais nobre,
Mas o mais humilde e pobre, 
despido das misérias da memórias
Permanecerei na dor submersa 
No centro do verso que cultivei
Das trevas, a negra luz, 
Como prova, trarei
O que nela própria se encerra de sóbra 
Minha vida terá outra trajetória
Não será um verso de glória
Mas quem se renega 
Nunca será digno de fazer história 
como poeta!
Pois no Inverno também se semeiam
e colhem rosas…
Muitos pensarão, não ser a altura mais correta
E quem assim não pensar 
Será somente só, um mero hipócrita!
Para nada há hora e época certa!(...)


Ana Rosa


Arte Lent Sukury





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