sábado, 23 de junho de 2018

Filhos meus



Filhos meus

(...) São meus, os filhos da noite
Sem os ter desejado, ou querido
Vestidos de pele num uivo ferido
Conheço seus trilhos, 
Seus minutos e segundos
Seu olhar triste e perdido, faminto
São navios de papel encalhados
Nas correntezas d'um rio
Em areal movediço
No punho do verso acolhidos
Como anjos caídos no beiral do abismo
Todos eles surgiram da noite
Fugindo ao seu açoite
Um a um, lhes reconheço os passos
As marcas do passado
Seu desejo de horizonte
O seu trémulo riso
Deles reconheço de cor o rosto
Diferentes sentidos
Seus modos diversos
Choram cantos em tristes versos!
Sorrisos que choram 
a dor do castigo
Fugindo do vazio, fruto de quimeras
De horas incertas
São meus, sem os ter parido
De mãos unidas hoje, 
À espera de cada manhã
Oramos a mesma reza (...)


Ana Rosa





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