quinta-feira, 14 de junho de 2018

Decisão tardia


Decisão tardia
(...) As decisões arrefeciam 
no cismo da mesa, estremecida
Debilitadamente, 
como adoração contemplada 
estagnadas no tempo! 
Jamais por mim esquecidas!
As horas nunca passavam
Aos poucos apagavam-se, 
na luz da vela ainda acesa.
Já cera derretida em agonia
numa relutância de mau contento.
Era a única coisa viva, 
o centro de todos os momentos,...
Eu, adormecia numa interrogação infantil 
Na fome submissa de incerteza febril
desse sempre decidir tardio
de todos os dias!
Sempre o mesmo, pequeno e tão grande 
em indiferença!
Tilintava a colher no prato de sopa fria 
tinha dela a noção do nada, 
aquela grandiosa noção, 
de como era imenso o vazio
Uma côdea de pão rijo, sorria para mim
ouvindo no escuro difusamente,
entre sombras frias. 
O que até hoje 
que por mim nunca fizeste e devias.
Como tudo era tão obliquamente enviesado 
em diagonal 
Apregoado dogmaticamente, como sino
rugindo o badalo, indicando...o bem...o mal...bem...mal!...
Tocando à porfia de tristeza feral,
Badalando entre a colher e malga de sopa fria,
a decisão que em cima da mesa arrefecida,
adormecida submissamente, como bênção
sonhando com pão fresco macio,
sem deixar de estar presente, 
o presente envenenado, 
de côdeas rijas de realidade
O sonho tem asas pequenas, e penas caídas, 
voltando sempre às origens,
com o mesmo langor de sempre! (...)

Ana Rosa Cruz




Sem comentários:

Enviar um comentário