Decisão tardia
(...) As decisões arrefeciam
no cismo da mesa, estremecida
Debilitadamente,
como adoração contemplada
estagnadas no tempo!
Jamais por mim esquecidas!
As horas nunca passavam
Aos poucos apagavam-se,
na luz da vela ainda acesa.
Já cera derretida em agonia
numa relutância de mau contento.
Era a única coisa viva,
o centro de todos os momentos,...
Eu, adormecia numa interrogação infantil
Na fome submissa de incerteza febril
desse sempre decidir tardio
de todos os dias!
Sempre o mesmo, pequeno e tão grande
em indiferença!
Tilintava a colher no prato de sopa fria
tinha dela a noção do nada,
aquela grandiosa noção,
de como era imenso o vazio
Uma côdea de pão rijo, sorria para mim
ouvindo no escuro difusamente,
entre sombras frias.
O que até hoje
que por mim nunca fizeste e devias.
Como tudo era tão obliquamente enviesado
em diagonal
Apregoado dogmaticamente, como sino
rugindo o badalo, indicando...o bem...o mal...bem...mal!...
Tocando à porfia de tristeza feral,
Badalando entre a colher e malga de sopa fria,
a decisão que em cima da mesa arrefecida,
adormecida submissamente, como bênção
sonhando com pão fresco macio,
sem deixar de estar presente,
o presente envenenado,
de côdeas rijas de realidade
O sonho tem asas pequenas, e penas caídas,
voltando sempre às origens,
com o mesmo langor de sempre! (...)
Ana Rosa Cruz
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