sábado, 23 de junho de 2018

Jade



Jade

(...) Procuro aqueles versos raros
Recolhidos em algum recanto, 
húmido e escuro, 
a sete chaves trancados 
gruta envolta em penumbra, 
perdida na floresta
adormecidos em almofadas de veludo
em mágoas de amor do passado.
Somente p'los grãos de pó visitados
mas, jamais por alguém lidos ou tocados
Acordá-los, ressuscitá-los, espalhá-los
com eles semear um novo mundo 
fazer florir sorrisos nos lábios
pálidos e crespados, feridos e mudos
Escritos por quem por amor hibernou 
em eterno luto.
Toda a vida viveu escrevendo-os 
para sua amada 
depois de perdidamente 
por ela se ter enamorado
A quem muito a amou e foi amado.
Sua vida fugiu-lhe das mãos, 
ficou só e abandonado
Não seria mais que rima sem poema, 
por alguém jamais declamado
Tudo o que sua vida adoçou, agora amargava.
No descortinar, no ardor da tarde 
branca era aquela flor 
que se abria beijando-lhe os lábios
Era bela, casta e pura 
consigo trazia carícias em pingos de chuva orvalhada
caídos de seu abençoado regaço
derramando com seu olhar de jade
Esperança, ternura, amor e simplicidade
Tudo deixou sem que nada tenha levado
Voou como fada, rumo a um lugar encantado
deixando, espalhadas estrelas em cada frase
abençoando-as com seu condão mágico 
Assim, dos versos se fizeram poemas raros! 
Irreparável foi sua falta 
e o mundo poético
se fez de correntes de ferro e aço
Vazio eterno, muro inultrapassável
Em cada verso uma exaltação de saudade cantada
Perfume delicado, inigualável
Belos e intensos versos 
p'lo tempo tocados 
amadurecido em arcos de saudade.
Como sol, vai amadurecendo cearas 
e castas de uvas douradas,
transformando-os em preciosidades perfumados
Poemas de paixão e joias da alma.
Futuro interrompido, inacabado e magoado
horas de jade, em cada segundo ardem
água é mera metáfora, fogo que arde
jamais a dor da falta apaga.
Hoje escondidos, muito procurados, 
mas jamais perdidos ou esquecidos
ainda por alguns eternamente lembrados
velados em noites, em que as estrelas no céu se calam.
Aos que nunca desistiram de acreditar 
naquelas palavras escritas, entre beijos e lágrimas,
poemas que se desconhece seu princípio
jamais haverá neles a noção de tempo ou espaço,
este é uma miragem!
Como o desenrolar dum novelo de sentimentos,
em que o fio jamais acaba.
Sua folha antes branca, imaculada,
são hoje um verdadeiro monumento 
ao amor e saudade
escrita com o aparo da alma, 
Tecidos de silêncio como bronze frio e sem rasto
escondem-se na escuridão de mão dada
andam não sei bem onde, vagueando como sonhos 
Palavras escritas, entre beijos e lágrimas.
Dizem alguns sábios, que de quando em quando
ainda se ouve o bater de dois corações despedaçados
entre pilastras mortais num poente de lágrimas
quedando-se com beijos ao cair da tarde 
sob um manto de mármore. (...)

Ana Rosa







Sem comentários:

Enviar um comentário