GRILHÕES
Choros noturnos
As feridas tomam forma de grilhões
Nunca chegam a ser cicatrizes
Estão sempre em carne viva
Marcam a carne bem fundo
Abrindo em cada gemido uma ferida
É escravo na sua dinastia
Abraça o trabalho arrastando grilhões
De dia inclina-se em mordomias
À noite o seu grito é de dor
O sangue jorra-lhe das feridas
Choro de uma grande angústia
À noite ela brota e domina
Chora raiva escondida
É escravo e serve de dia
À noite é o rei da dor
Na sua própria dinastia
Vida que se gasta com castigo
O passar da idade é abrigo
Aconchega-se num canto
Canta com voz grossa e terna
Canções em seu dialeto materno
Aliviando dores de outros enfermos
A noite é ferida aberta
De onde jorram as entranhas
Feridas de grandes guerras
Guerreiros exaltam façanhas
Havendo homens em guerra
A cor, ainda é relevante
Errático engano
Preto é irmão de branco
Porque distinguir tanto?
Ser preto ou branco
Ambos partilhamos uma cor
Da qual muito gostamos
O vermelho do nosso sangue!
Que se pare de questionar a cor
Em tudo somos iguais
Até nos grilhões que provocam dor
Até ontem
Ana Rosa
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