quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Grilhões





GRILHÕES

Choros noturnos
As feridas tomam forma de grilhões
Nunca chegam a ser cicatrizes
Estão sempre em carne viva
Marcam a carne bem fundo
Abrindo em cada gemido uma ferida

É escravo na sua dinastia
Abraça o trabalho arrastando grilhões
De dia inclina-se em mordomias
À noite o seu grito é de dor 
O sangue jorra-lhe das feridas 

Choro de uma grande angústia
À noite ela brota e domina
Chora raiva escondida
É escravo e serve de dia
À noite é o rei da dor 
Na sua própria dinastia

Vida que se gasta com castigo
O passar da idade é abrigo 
Aconchega-se num canto
Canta com voz grossa e terna
Canções em seu dialeto materno
Aliviando dores de outros enfermos

A noite é ferida aberta
De onde jorram as entranhas
Feridas de grandes guerras
Guerreiros exaltam façanhas
Havendo homens em guerra 
A cor, ainda é relevante

Errático engano
Preto é irmão de branco 
Porque distinguir tanto?
Ser preto ou branco 
Ambos partilhamos uma cor
Da qual muito gostamos
O vermelho do nosso sangue!

Que se pare de questionar a cor
Em tudo somos iguais
Até nos grilhões que provocam dor

Até ontem

Ana Rosa


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