O outro lado
(...) Conto e digo-vos...
A riqueza está se misturando
com a pobreza,
apregoando humildade
Como se possível fosse
Misturar azeite e vinagre
Despindo sua nobreza e vaidade,
envergando máscara de mendicidade
como sendo farda de trabalho
mal engomada...
De mão estendida
circulando p’la cidade
mendigando caridade
de olhar moribundo
como que p’la morte acompanhada.
Virou moda rico mendigar,
Como pedir tostãozinho p’ro
Santo António
Circular nas ruas mal vestido,
amarrotado, sujo e magro!
Encenando a pobreza,quando lhe dá vontade
que está em seu torno,
por todo o canto e lugar!...
Houve tempo, que ser "novo rico”
era bom presságio.
Hoje é glorioso ser “novo pobre”
Entre pobres, fazendo da pobreza, teatro.
Quando a encenação é finda
e a hora de expediente terminada,
despe a farda de trabalho
mudando indumentária e cardápio.
Colocam fato e gravata
Sentam-se na plateia...
Batem palmas ao espetáculo
Colocando a mão à carteira
do mais próximo, que está ao lado!
Rico é um actor nato,
O ato está lhe no sangue
Por herança lhe foi dado
É um pobre coitado, parasita na sociedade
Nada deve a ninguém, no entanto é devedor em todo o lado
Come e bebe fiado
É o novo pobre, ladrao militante da mendicidade
E quando no ato se suja e a coisa se embrulha
Temos sempre a noção que sentença
É tempestade de pouca dura
Rico tem testa de ferro de envergadura
É como água que bate na rocha, ou em pedra dura
Tanto bate, até que fura!(...)
Ana Rosa
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