segunda-feira, 9 de julho de 2018

O outro lado




O outro lado



(...) Conto e digo-vos...
A riqueza está se misturando 
com a pobreza, 
apregoando humildade 
Como se possível fosse 
Misturar azeite e vinagre 
Despindo sua nobreza e vaidade,
envergando máscara de mendicidade
como sendo farda de trabalho 
mal engomada...
De mão estendida
circulando p’la cidade
mendigando caridade
de olhar moribundo
como que p’la morte acompanhada.
Virou moda rico mendigar, 
Como pedir tostãozinho p’ro
Santo António 
Circular nas ruas mal vestido, 
amarrotado, sujo e magro!
Encenando a pobreza,quando lhe dá vontade
que está em seu torno, 
por todo o canto e lugar!...
Houve tempo, que ser "novo rico”
era bom presságio.
Hoje é glorioso ser “novo pobre”
Entre pobres, fazendo da pobreza, teatro.
Quando a encenação é finda
e a hora de expediente terminada,
despe a farda de trabalho 
mudando indumentária e cardápio.
Colocam fato e gravata
Sentam-se na plateia...
Batem palmas ao espetáculo 
Colocando a mão à carteira 
do mais próximo, que está ao lado!
Rico é um actor nato,
O ato está lhe no sangue
Por herança lhe foi dado
É um pobre coitado, parasita na sociedade 
Nada deve a ninguém, no entanto é devedor em todo o lado
Come e bebe fiado
É o novo pobre, ladrao militante da mendicidade
E quando no ato se suja e a coisa se embrulha
Temos sempre a noção que sentença
É tempestade de pouca dura
Rico tem testa de ferro de envergadura
É como água que bate na rocha, ou em pedra dura
Tanto bate, até que fura!(...)

Ana Rosa





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