quinta-feira, 5 de julho de 2018

Lágrimas




Lágrimas

(...) Se alguém disser que me conhece
exibirei um sorriso mordaz.
Nem tão pouco após séculos e séculos 
de tal feito fui capaz!
Se disser que me viu passar, negarei
e quem tal privilégio teve, já lá jaz e descanse em paz!
Nunca caminhei em frente, 
passei a vida entre os muros do medo 
na constância do meu próprio recuar.
Será a pura visão alucinada de mim
Estou e reclamo o que sou, 
o meu espaço, o meu lugar 
a minha ausência tão presente, 
como flor morta antes da primavera 
a fazer desabrochar. 
Fugaz de lugares... perto e longe 
nesta existência, onde reina a fome sem dor
anestesiada de piedade negra 
quente numa ânsia voraz
tragando a ambiência moribunda e vasta.
Ninguém me conhece como eu me desconheço!
Na invisibilidade me exponho
sem nome, sem dom ou preço
não me compro nem me vendo
tendo como graça o obséquio reunido
cloreto de sódio, água e albumina
Lágrimas que benzem almas 
de todos os que desistem, 
cujo apelido de batismo se dita e assina 
como vencidas. (...)


Ana Rosa







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