domingo, 4 de fevereiro de 2018

Desigual




Obrigado p´lo convite "Ciranda",
Anjo Adhemar Navas

Desigual

(...) Nasci em luta desigual
Dentro de mim, me abandonaram
Vim ao mundo vestida de asas rasgadas
Entre o céu e a terra, o bem e o mal
Deram-me este corpo como oferenda 
Dentro dele, vi o abismo, a queda fatal 
Tornou a morte o meu espirito imortal
Minha vida, é áspera lenda!
Escrita na tinta da pedra, 
Em imagem alada de água e cal
Fizeram-me do pó da terra, 
Vagueei p'las lamas dos caminhos
Amassada em descrença...
Cravaram-me a alma com venenosos espinhos!
Deram-me a beber a sede da ardência
Sem horizontes ou clemência
Puseram-me o corpo estéril a germinar na terra
Meu sangue, derramado por vales e serras
Verteram-se em mim asas de revolta
Secaram-se todas as fontes
As derrotas enfeitaram-se cantando vitórias
Marcaram-me na carne o vale e a serra
Acorrentaram-me a alma ao mundo
Sem a soltar, lançaram-na às feras 
Para que livre fosse, sem poder voar
Deram-me dedos como ramadas
Braços com troncos...de bruços
Deles escorrem seivas estagnadas
Árvores que aos poucos secam sem frutos,
Como pássaro chorando penas
Ao olharem-se, depenados
Da voz cantei sem harmonia
Encheram-me os olhos nem eu sei porquê
De luz morta e vazia,
Ordenaram-me que fitasse o sol 
Sabendo que vê-lo jamais poderia!
Até que a morte me arraste
Para o além deste mundo de miséria
Sou e sempre serei, caminho de combate
...entre céu e terra!
Breda estreita, amarga e escorregadia
Na escuridão desta vida eterna
Guerra atroz, entre alma e matéria! (...)

Ana 🌹 🥀 Rosa

Arte Tomás Dodd


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