domingo, 4 de fevereiro de 2018

Lenga lenga




(...) O tempo é uma lenga…lenga 
Acanhada e rude, estreita senda
Ao por lá se passar, algo de nós se esvai, 
Delida fazenda sem conserto, difícil de remendar
Por nós passa, sem permissão, ter tido
O ponteiro roda, o tempo gira num rodopio.
Vai...parte para não mais regressar
De caracter fugitivo, finge ficar
É cruel, mentiroso e vadio
Sempre algo de nós leva consigo
Deixa de ser, vai-se, depois de nos ter consumido 
Algo que nos é dado, nunca agradecido
Sem nunca nada lhe ter pedido...
Como semente de flor, que não medrou, 
Murchou, antes de ter florido 
O tempo passa a correr, sem acontecer
Nossa imagem, acabamos por não reconhecer
Afirmamos que o espelho nos está mentindo
Não acreditamos naquela imagem
Que nele, não para de refletir...
Outrora viçosa, agora enrugada e triste
Quem com ele nada aprendeu,
Nada mais pode aprender
Como cristal que quebra em mil bocados 
No chão acaba partido
Tempo algum se pode reter, 
Ele próprio é num relógio, um recluso retido
Constante adeus, que de nós parte
Sem se ter despedido...
Vislumbro ao longe, o raiar da alvorada,
Aspirando o presente mais que tudo, 
O tempo, de nós se vai, sem nada nos deixar 
Logo se envolve de penumbra,
E da clara madrugada... 
Logo faz-se poente, sem manhã ter sido
Vivo em constantes recordações irreais
Nenhuma consigo reter 
O mundo é mero instante
Quando algum, só para mim quero reter 
É sempre tarde demais! 
Por isso e muito mais, o tempo tem asas
Voa em torno de mim, como bando de pardais! (...)

Ana Rosa




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