domingo, 20 de novembro de 2016

Saber Ser








SABER SER

Era para mim tão grande!
Embora de estatura pequena...
Sua voz, tinha melodia,
Como quem declama um poema...
Envolto em redoma de alegria, 
Com notas de música,
Num tear tecidas, 
Belas fiadas com sílabas de seda...
Doce vós harmoniosa
Textura clara e sonoridade serena...
Mulher do povo,
O trabalho era sua riqueza
Sempre me ensinou que a vida,
Não era um conto de fadas,
Com príncipes e princesas...
O saber não ocupava espaço
A ignorância, essa sim; era pobreza!
Era jovem e tão linda
Sempre que lho dizia, 
Um abraço eu recebia
E sorrindo dizia, que era sua riqueza
Era o espírito perfumado,
A falar e agir em cada linha.
Jovem, mas de ideais maduros e decidida
Sua presença física, embora pequena
Ocupava o principal espaço
No seio da família
Gostando de se sentir obedecida!
Mulher e mãe que me demonstrou
Que para mandar, tínhamos de descer
Ao calcanhar de quem queríamos
Que tal recomenda fosse dirigida!
Pela manhã, ao acordar-me
Apressava-me a levantar
Para a escola ir de seguida.
Mostrava-me que aprender
Era o bem maior da vida
Que haveria de me ajudar a crescer
E a ser uma grande mulher!
Aprender era um privilégio,
Não só uma obrigação, ou um obedecer
Tinhas luz no olhar, ao nascer da matina,
Gotículas de brisa marinha
Escorrendo pelo rosto
Repleto de ternura infinda.
Era presença, em minha vida florida
Milagre de tudo o que possuía
Ordens dadas com amor maternal,
Tudo o que escrevia e dizia, 
Só mais tarde soube o significado real
Sem agrestes pontos de interrogação,
Mulher de poucas vírgulas
Que bem depressa, entender se fazia,
Da primeira à última linha.
Em suas folhas brancas,
De palavras de esperança escritas,
Com linda caligrafia,
Que mais parecia o esboço,
Para uma linda pintura.
Havia sempre uma afirmação
Com os acentos colocados 
No sítio devido de estar.
Em cada escrito ou oração,
Um complemento direto
Sem um único borrão
Sem um qualquer ponto final.
Tal como sua forma se ser,
Um belo poema inacabado, 
Num livro a todos aberto!
            
Até Ontem

Ana Rosa Cruz

Arte: Paul Hermann Wagner






Sem comentários:

Enviar um comentário